segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A minha amiga Helena


Ontem fizeram-me o seguinte comentário a propósito de uma pessoa que me transmite uma enorme energia de paz e felicidade: “Nota-se que ela deve ser uma pessoa muito sozinha, porque precisa de falar muito e mete conversa com toda a gente, a propósito de tudo!” Eu fiquei espantada a olhar para essa pessoa e respondi-lhe que não tinha a mesma opinião. 
Penso que a Helena é uma pessoa feliz, à sua maneira. Só que é diferente. E nem toda a gente compreende essa diferença. Eu tive esse privilégio e por isso é que ela gosta tanto de mim.
A Helena tem algumas limitações devido a um certo atraso mental de que padece mas que não é severo. Vive no seu mundo que é uma espécie de jardim florido no meio de uma cidade cheia de edifícios de pedra. Quem fala com ela, percebe que é muito protegida pela mãe que a acompanha todos os dias à aula de hidro-ginástica (onde eu tive o prazer de a conhecer) e por quem ela tem uma enorme admiração: “A minha mãe é Doutora!” - disse-me um dia.
Gostei sinceramente de conhecer a Helena. E não partilho de maneira nenhuma o comentário que ontem me fizeram. Primeiro, porque me guio muito pela minha sensibilidade emocional. Houve dias em que cheguei à aula, cansada, preocupada e até deprimida e foi a alegria da Helena que me fez olhar para a vida com uma cor e uma esperança renovadas. Se os comentários dela são despropositados? Quem sou eu para julgar? Sinto por ela um carinho e uma admiração que me dão vontade de a proteger e de ouvir as suas histórias. E mesmo quando ela faz perguntas, um tanto ou quanto indiscretas sobre a minha vida...a ela, eu não levo a mal! Nem me incomoda destroçer-lhe  as alças do fato de banho - tarefa que já se tornou hábito ela pedir-me antes de cada aula, pela familiaridade que entretanto ganhou comigo! 
Por último, não partilho de todo que as pessoas que metem conversa com os outros e falam muito, sejam necessariamente pessoas tristes ou sós! Porque não havemos de querer conhecer melhor as pessoas com quem partilhamos todas as semanas duas aulas de hidro-ginástica e que representam para muitos de nós para além de sinónimo de saúde e bem estar, momentos puros de prazer e uma bomba de oxigenação para o stress diário?
Eu também sou como a Helena. Falo com toda a gente, tenho curiosidade em conhecer novas pessoas e saber um pouco das suas vidas; gosto de discutir opiniões sobre noticias e sobre banalidades e quando estou bem disposta, digo piadas sobre o que o me vai na cabeça! Detesto passar pelas pessoas como senão existissem.
Será que aquela senhora que me fez o comentário sobre a Helena também acha o mesmo de mim? Ou eu safo-me, porque não sofro de nenhum atraso mental  e possuo uma imagem mais dentro dos rótulos que a sociedade dita de normal? Não quero fazer interpretações injustas. Tenho a certeza de que o comentário não foi maldoso. É apenas uma questão de pontos de vista diferentes.
Ontem foi a última aula de hidro-ginástica antes das férias e congratulo-me de não ter faltado: o professor organizou jogos que possibilitaram a interacção entre as pessoas e rimo-nos todos uns dos outros e uns com os outros.
É bom sermos todos únicos e diferentes, porque de outro modo morreríamos de tédio!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A união cigana faz a força?

Os ciganos são um povo que vive à margem de todas as sociedades dos países onde vive. Exclui-se e recusa integrar-se. Cria a sua própria economia paralela, com os mercados, as feiras e negócios pouco claros. Não paga impostos. Diz-se nómada e assentam arraiais onde lhes dá a gana. Eles usam chapéu preto e barba crescida desde tempos imemoriais. E elas, sempre as conheci de saias grandes - onde escondiam os meninos que se recusavam a deixar a chupeta e que raptavam às mães! - foi com este terror que eu atirei fora a minha última chupeta e nunca mais voltei a pegar noutra!


Quem se mete com um cigano, mete-se logo com mais dez, pelo menos! O pai, a mãe, a tia, o primo, o cunhado, avô, neto, amigo.... cruzes, credo! Benza-se aos céus!

Quando um cigano fica doente e vai para o hospital, o hospital torna-se de imediato num acampamento de ciganos - é certo e sabido. Quando algum deles é preso ou julgado, a comunidade inteira vai atrás, defender e apoiar. Atiram-se aos jornalistas e enfiam-se pelas câmaras de televisão adentro, fazendo uma enorme chinfrineira! Os juízes e os advogados daqueles processos, transpiram a rezar para que consigam sair para o próximo processo vivos!


Os ciganos gritam, choram, protestam, ameaçam, praguejam e incomodam toda a gente.


Acho que ainda nunca ouvi um elogio à etnia cigana! Quase toda a gente tem episódios desagradáveis para contar. São associados a falta de higiene, a negócios sujos, a invasão de espaços públicos onde criam grande alarido e confusão e fazem muito barulho. Quando se vão embora, deixam a lixeira que criaram para os outros limpar; não declaram rendimentos, não produzem riqueza tributável nos países onde se instalam e marimbam-se para todos os nacionais dos países que os albergam! Não pertencem a lado nenhum e parecem estar sempre a estorvar.


No entanto, há qualquer coisa no comportamento deste povo que é admirável. A forma tribal como vivem e a união que defendem. Há quem diga que também isto é fachada. Que dentro da etnia cigana, a união que ostentam é mais uma questão de ditadura e de submissão obrigatória a servir o chefe do clã. Que é desse respeito severo e sem opção, que depende a sobrevivência de cada membro. Quando entre eles há traições, essas, são punidas com a morte. Ou, com direito a expulsão.


Descritos desta forma, são sem dúvida nenhuma, uma etnia rudimentar. Que ficou parada no tempo e se rege por uma conduta ultrapassada. Mas a verdade é que para onde vai um, vão todos! - mesmo que a união deles não seja tão expontânea como possa parecer. E acho que esta é a grande lição que podemos aprender com eles!


Seja forçada ou não, a união faz a força - sempre ouvi dizer. E mesmo que ninguém goste deles, a verdade é que são temidos e respeitados. Quem ousa meter-se com um cigano? Sim, sr. cigano...tem toda a razão.


São permitidos aos ciganos, situações que a mais ninguém é permitido. Ainda ontem vi um grupo de mãe, avó, filha, neta, vizinha e mais não sei quantas ciganas, todas de volta do seu parente idoso - um cigano velhote, desdentado, sentado numa cadeira de rodas, internado num hospital, a questionarem o saber ciêntifico de uma médica a quem mandaram chamar, para comprovarem se ela estaria a observar a boca do seu “avozinho” como deveria ser: “abre lá a boca, não vê doutora, é pus!” e lá se punham todas de cócoras viradas para o velho - que mal conseguia abrir a boca! A médica veio lá de dentro do internamento, deixou o que estava a fazer, para cumprir o pedido das mulheres ciganas! Disse-lhes que não era pus, não senhor e foi-se embora a correr.

Nem aí, nem ui!