sábado, 29 de outubro de 2011

As oportunidades...

Estão a imaginar aquele tipo de pessoas que sempre que as encontramos só nos fazem  pensar: deixa-me ver qual vai ser hoje a teoria ou a história que me vai inventar?
Roliço, anafado, bola de carne, óculos pequenos para os olhos demasiado expressivos e vivos, cara redonda, artista da Globo - por acaso, brasileiro! - que saudades do ator “Viva o Gordo!” - é ele!
Nunca seria capaz de fazer dele uma caricatura justa, sem parecer empobrecida.
Hoje a sua teoria era esta: “cada um na sua prateleira, todos têm um preço! E aquele que diz que não tem, é porque ainda ninguém o quis comprar.” 
O mais engraçado nesta personagem é que as teorias que ele apregoa ao longo das conversas, não têm nada que ver com o que se está a falar. É que nem uma fotografia desfocada são. É como se o autor da fotografia nos estivesse a descrever a paisagem de um lago na Irlanda...e nós, estarmos a ver na mesma fotografia os arranha-céus de Nova-Iorque! Sim, sim...Tudo a ver.
Haveriam de ver o ar sério e profundo com que ele desfia as teorias, dando exemplos pessoais, abrindo muito os olhos azuis e repetindo as frases com que personifica as suas ideias. Não é um filósofo. É um mago. E imaginem, com sotaque brasileiro!
E quando uma pessoa já está a pensar: como é que eu saio daqui? Como consigo escapulir-me? Vem a próxima. De rompante. Apagão eléctrico na cidade. Sem tempo para respirar silêncio. Pausa. “Todos temos a óporrtunidádji* da nossa vida - diz - e senão a agarrarmos - e enquanto fala, faz em simultâneo o gesto de agarrar na gordurinha do seu próprio braço (como se a oportunidade estivesse lá!). Continua - “senão a agarrarmos, passamos o resto da vida pensando no momento em que a perdemos.” 
Esbugalhando muito os olhos - sábio, apóstolo - prossegue: “ Sabemos exactamente o momento em que a perdemos.” - auferindo agora um tom trágico, para logo a seguir, dar um encolher de ombros, aliviado: “Mas graças a Deus, eu tenho apanhado todas as óporrtunidádjiis*! Todas! Não posso me queixar.”
E a minha oportunidade - a de me escapulir - quando virá? 
óporrtunidádji* = oportunidade
óporrtunidádjiis* = oportunidades

domingo, 23 de outubro de 2011

Sumo de Laranja, nova fragrância de verão!

Tenho um amigo que em tudo o que se mete é a fundo! Não há travão para ele. A não ser que se esborrache por sua culpa e risco contra a parede. E foi o que aconteceu hoje.
Nas últimas semanas começou a beber desenfreadamente sumos naturais, às mais variadas horas do dia, porque viu uns videos no You Tube de um senhor já com uma certa idade (mais de setenta anos) cuja alimentação é à base de sumos de fruta e de vegetais e que vende uma saúde de ferro e um aspecto incrivelmente jovem! Para além de já ter lido imensos artigos sobre o assunto e de já há muito tempo discutir  e trocar ideias, livros e videos com vários amigos que também são adeptos de praticar uma alimentação mais saudável.
Garanto-vos, quando ele se interessa por um assunto, ele procura todo o tipo de informações para aprender ao máximo e poder falar do assunto que lhe interessa como um verdadeiro expert! Esta busca de informação sobre algo, pode durar meses ou até anos e no auge do seu interesse é vertiginosa! Cursos, revistas, compra tudo o que sirva para praticar o hobbie ou para o ajudar a ganhar conhecimento e sabedoria. Hoje em dia, essa busca é-lhe facilitada pelo I-Pad e pela internet - parece uma formiguinha a laborar sem parar, para armazenar comidinha para o inverno ou no caso dele, informação! Enquanto não se desinteressar, é aprender tudo o que possa. Já foi assim com a fotografia, com o próprio Holandês (enquanto não aprendeu a falar corretamente não se cansou!), com alguns desportos (praticou uma série deles, como vela, snowboard,etc; o mais recente, foi o Golfe), é assim com a arte de cozinhar e desde alguns anos que nutre uma enorme paixão pelos vinhos! Agora começa a ser a alimentação saudável - vegetariana. 
Começou por experimentar as deliciosas receitas de sumos com a Bimby, mas chegou à conclusão que nem todos os frutos com casca ficavam perfeitos em termos de sabor e textura! Lembrou-se então duma máquina de sumos super-sónica que o pai dele comprara há uns tempos e que por agora, já andava esquecida: levou-a para o escritório! A partir daí os seus dias nunca mais foram os mesmos: e sai um sumo de laranja com a casca branca (que faz bem para criar cabelo e é anti-envelhecimento e mais uma série de coisas que ele já leu!). Este é o sumo dos Deuses! Não estivesse o Algarve cheio de laranjas e ele já tinha tomado conta das encomendas que vão para todos os Pingo Doces da zona! E sai um sumo de couve, cenoura e aipo; outro de beterraba, maçã e abóbora; e o delicioso sumo de melancia com casca e tudo!  É de beber e ir à casa de banho uma porção de vezes, porque eu já sou diurética por natureza quanto mais com meio litro de sumo de melancia! Sem esquecer os bróculos e os espinafres! Agora, é que é! Aproveita-se as cascas, que é o que contém mais nutrientes; aproveitam-se as grainhas! Não há desperdícios! O meu amigo pratica a lei de Lavoisier - na natureza nada se perde, tudo se transforma!
Tanto aproveitamento, que hoje culminou numa combustão eléctrica com o estômago às voltas e a fazer barulhinhos de tanta vitamina concentrada, nutrientes aos pontapés e energia a transbordar! Tudo porquê? Porque decidiu simplificar o processo da descasca das laranjas - que sempre requer algum trabalho e precisão - tem de ficar a casca branca! E decidiu despachar o assunto metendo as laranjas inteiras! Claro que para além de o sumo ter ficado amargo - eu nem o provei, mas ele só se desmanchou no final! - passou o dia inteiro a arrotar às malditas laranjas! Mas pior, sempre que me chegava ao pé dele e já a tarde ia a mais de meio, ele só cheirava a laranja! Misturado com o perfume, até parecia uma nova fragrância de verão! 
À noite ainda recebi um sms de sua excelência a rogar já pragas às viçosas e sumarentas laranjas com casquinha e caroços! Continuavam no seu bandulho a fazer uma viagem interminável e sonoramente sumarenta!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Povo sem esperança!

Hoje por onde andei só se ouvia falar por todo o lado dos enormes sacrifícios a que todos nós estamos sujeitos pelo desastre a que Portugal chegou. O facto é este: um país para ser soberano precisa além da soberania politica, de ter independência económica. O que acontece com Portugal é que o dinheiro acabou e estamos completamente dependentes da ajuda externa para pagar bens essenciais: como os médicos e os enfermeiros dos hospitais, para pagar as nossas importações, para que os funcionários dos CTTs continuem a receber o seu salário bem como os professores das faculdades e do ensino primário. Até mesmo os salários imaculados dos nossos governantes e dos deputados do Parlamento poderiam estar em risco!
Agora imaginemos isto a um nível micro-económico: uma familia com dois filhos e com um rendimento mensal total de 1200 euros, com uma mensalidade de 350 euros para pagar o empréstimo da casa, mais os gastos de luz, água e gás; as despesas mensais de duas crianças, uma na creche e outra na escola primária. De repente, vê os juros do empréstimo do banco a aumentar, os preços dos bens primários a subir pela consequente subida dos impostos agravados por esta situação. Imaginemos que o casal já tinha contraído dois empréstimos para adquirir mobiliário lá para casa ou outros bens e o plafond dos dois cartões de crédito foram completamente ultrapassados! O que é que acontece a estas duas pessoas responsáveis por si e pelos seus dois filhos? O desespero. A desesperança.  
Até onde vai o limite dos sacrifícios que nos são impostos? Até onde é possivel manter a sanidade mental de um povo que apesar de compreender que não há outra solução, não deixa de se sentir roubado e enganado com todos aqueles que nas últimas duas décadas nos governaram e permitiram que chegássemos ao abismo onde caímos?
O que as pessoas pensam é: mas porque tenho eu que estar a pagar uma divída que não fui eu que contraí? O que foi feito do dinheiro? Eu nunca lhe mexi. Agora dizem que foi todo gasto e mal gasto? Evaporou? Nunca existiu? Ninguém entende nada de nada. E o pior é que quem nos governa e nos está a exigir todos estes sacrifícios, não nos garante qualquer segurança de que vai valer a pena e de que vamos conseguir sobreviver sem ir completamente ao fundo. De que tamanho e dimensão tem esse fundo? Ninguém nos sabe explicar. 
Mesmo aqueles que têm condições acima da média e estão em lugares de destaque, conseguirão viver felizes num país, onde vão ver a cada esquina miséria e volência? Com esses não me importo eu. Importo-me é com aqueles que têm de fazer o milagre da multiplicação com cinco euros por dia para dar alimento à sua família. E aqueles que nem com isso já contam?
Não imagino o futuro. E penso que neste momento há muita gente perplexa e sem  sequer imaginar o que trás esse futuro. Ninguém sabe explicar bem o que está a acontecer. Ninguém sabe garantir-nos de que irá ser melhor. Pelo contrário, só nos sabem garantir de que ainda vai ser pior. Chegou-se a um ponto de interrogação sem fim à vista. 
Como se consegue motivar um povo a fazer sacrifícios, se esses sacrifícios passam pelo aumento do desemprego, pela retirada dos subsídios de Natal e férias, pela subida dos preços de produtos essenciais, pela diminuição de beneficios nos setores chave do estado social, como a saúde, a edução e a justiça? Como se pede a um povo que poupe, se para a grande maioria, o dinheiro não chega nem para metade do mês? 
E o pior disto tudo é que a nossa classe política para além de ser comandada pelo poder económico e servir apenas os seus interesses, consegue ainda ter o descaramento de nos ter tirado a esperança de ter um futuro. 
É como se nos dissessem: O futuro não existe, sacrifiquem-se pelo erros que cometemos no passado!
A esperança é a última a morrer - sempre ouvi dizer. E quando até a esperança já nos roubaram? Como se consegue viver com a sua ausência? 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O direito de cobrar

Quem cobra sente-se sempre mal e quem é alvo de cobrança, sente-se injustiçado.
Quem cobra afectos, promessas, companhia, atenção - está sempre numa posição de inferioridade, seja numa relação profissional, amorosa ou de amizade. E quem é alvo dessa cobrança, acaba por se afastar revoltado e zangado, sentindo que não são justas as exigências nem as acusações que lhe estão a fazer!
Eu não tinha ideia do efeito negativo que cobranças repetidas e frequentes - a propósito de tudo - podem ter para qualquer tipo de relacionamento, até sentir isso na pele. Ou seja, ser eu a vitima dessas cobranças!
Há muitas outras formas através das quais podemos expressar a nossa tristeza ou desapontamento relativamente a uma atitude do outro que nos tenha magoado, sem ser necessário utilizar o disco rigido e severo que é a cobrança, pura e dura. 
Julgo que a cobrança é a forma eleita das pessoas orgulhosas e que não se sentem à vontade em expressar os seus sentimentos, sem ficarem com a sensação de estar a expôr em demasia a sua fraqueza e por isso, preferem optar pelo cinturão de forças e pelo chicote. 
Terão os amigos direito de nos cobrar que não lhes ligamos ou que já há muito tempo não  estamos com eles? Sim e não. Penso é que não é com acusações e queixas repetidas e  por vezes até fora de contexto que se deve exprimir esse sentimento. Há muitas maneiras de fazermos sentir aos outros que gostavamos de estar com eles e que é bom estarem mais presentes porque fazem falta. “És sempre a mesma, nunca podes vir jantar!”, esquecendo-se de que o convite está a ser feito mesmo em cima das 20h00 e como será natural, até podia já ter jantado. Porque não fazer o convite com outra humildade? “Secalhar já te estou a ligar muito em cima da hora de jantar e até podes já ter outros planos mas há tanto tempo que já não nos vemos...o que achas de irmos jantar para meter a conversa em dia?” Depois de um discurso destes, só por razões de força maior é que não se altera o que já se tiver agendado. 
E no amor? “Será possivel que num dia inteiro estiveste tão ocupado que nem 30 secundos tiveste para me enviar um sms ou ligar para me dar um miminho? Quando falámos de manhã, interrompeste o nosso telefonema a dizer que precisavas de atender quem te estava a ligar, mas que já me ligavas a seguir...caramba, passou-se um dia inteiro! Não foste à casa de banho nem uma vez?!”
O que é que se ganha com este tipo de discurso? Absolutamente só se perde. Haveria outras formas em que poderiam ganhar os dois: quando o cobrador em vez de cobrar opta por ter paciência para perceber primeiro porque é que o outro permaneceu o dia inteiro tão ausente.
Porque não dizer assim? 
  • Amor, aconteceu alguma coisa contigo hoje? - (respiração lenta e profunda...) - Estás bem? - mesmo que só apeteça esfregar-lhe na cara a esfregona peçonhenta de lavar o chão!
  • E o outro, fica perplexo com a pergunta: Estou sim, mas porquê?! 
  • Ora, porque tenho tido vontade de falar contigo e estranhei nunca mais me dizeres nada desde que falámos de manhã!
Desta forma, o outro fica logo com a consciência pesada e vê imediatamente a sua falta: 
  • Tens razão, desculpa! 
Nesta última situação, garanto que é a relação dos dois que sai fortalecida, desde que haja honestidade.
Penso que todos nós devemos tentar ser mais calmos e mais tolerantes uns com os outros! Nunca ninguém é exatamente como nós queremos nem se comporta de acordo com as nossas expetativas. Todos nós temos dias difíceis e nem sempre estamos atentos aos que nos rodeiam e que nos importam mesmo.
Todos erramos e ninguém é perfeito. Para que havemos de exigir aos outros aquilo que nós próprios não conseguimos ser? 
Estas linhas não pretendem ser uma lição empertigada para esfregar na cara de alguém. É mais uma auto-confissão de mim mesma como cobradora profissional de faltas e promessas que tenho sido em muitas situações, mas que não quero continuar a ser. Porque sou inteligente e sei que posso conquistar o melhor daqueles de quem gosto de uma forma mais altruísta. E como me repetia alguém de quem hoje tenho muitas saudades: não é com vinagre que se apanham moscas!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Steve Jobs, a Apple iluminada!

Morreu Steve Jobs - o deus criador da Apple - a maçã verde em quem todos querem dar uma dentadinha de tão saborosa que é - a empresa que é atualmente a mais valiosa do mundo!
Muitos alcunham-no de brilhante ou visionário - apesar de eu achar que são os adjetivos mais fáceis que saiem da boca, sempre que se pretende falar de alguém que se distinguiu de uma forma tão abismal. 
Eu prefiro dizer que Steve Jobs foi um iluminado! Porque o seu cérebro não se deixou confinar ao que era possível. Ele sonhou tão entusiasticamente o castelo maravilha que pretendia construir mesmo fora da Escócia e ultrapassou todas as dificuldades ou obstáculos! 
Viveu para o que acreditava e realizou o seu mundo que mudou o nosso mundo!
Para quem o conheceu mais de perto, dizem que o seu lema era viver todos os dias como se fosse o último e por isso mesmo, dedicou a sua vida à sua grande paixão. Sobreviveu  pouco mais de um mês após se ter retirado da Apple! Hoje ouviu-o  num discurso para uma imensa plateia de estudantes universitários, onde dizia que após ter sido confrontado com a perspetiva da morte, deixou de ter medo. Eu não acredito que alguma vez ele tenha tido medo do que quer que seja, a não ser de morrer antes de concretizar os seus sonhos!
Foi o criador do rato e do I-Phone 1 e morreu na data do lançamento do I-Phone 4S. Penso que é um dado simbólico e ao mesmo tempo demonstrativo que nada acontece por acaso. Até arriscaria a dizer que este, foi o seu último contributo à Apple, para a ajudar a que ainda se vendam mais I-Phones por esse mundo fora!
Apesar de estarmos a viver os dias contados do capitalismo selvagem e de ter ouvido funcionários das lojas Apple dizerem que ele não gostaria que as lojas tivessem encerrado. Eu mesmo assim discordo. Um dia de silêncio e de portas fechadas em todo o mundo, seria o mínimo que a Applezinha poderia ter feito, para agradecer a quem fez tanto por ela e a tornou tão luminosa!