terça-feira, 11 de outubro de 2011

O direito de cobrar

Quem cobra sente-se sempre mal e quem é alvo de cobrança, sente-se injustiçado.
Quem cobra afectos, promessas, companhia, atenção - está sempre numa posição de inferioridade, seja numa relação profissional, amorosa ou de amizade. E quem é alvo dessa cobrança, acaba por se afastar revoltado e zangado, sentindo que não são justas as exigências nem as acusações que lhe estão a fazer!
Eu não tinha ideia do efeito negativo que cobranças repetidas e frequentes - a propósito de tudo - podem ter para qualquer tipo de relacionamento, até sentir isso na pele. Ou seja, ser eu a vitima dessas cobranças!
Há muitas outras formas através das quais podemos expressar a nossa tristeza ou desapontamento relativamente a uma atitude do outro que nos tenha magoado, sem ser necessário utilizar o disco rigido e severo que é a cobrança, pura e dura. 
Julgo que a cobrança é a forma eleita das pessoas orgulhosas e que não se sentem à vontade em expressar os seus sentimentos, sem ficarem com a sensação de estar a expôr em demasia a sua fraqueza e por isso, preferem optar pelo cinturão de forças e pelo chicote. 
Terão os amigos direito de nos cobrar que não lhes ligamos ou que já há muito tempo não  estamos com eles? Sim e não. Penso é que não é com acusações e queixas repetidas e  por vezes até fora de contexto que se deve exprimir esse sentimento. Há muitas maneiras de fazermos sentir aos outros que gostavamos de estar com eles e que é bom estarem mais presentes porque fazem falta. “És sempre a mesma, nunca podes vir jantar!”, esquecendo-se de que o convite está a ser feito mesmo em cima das 20h00 e como será natural, até podia já ter jantado. Porque não fazer o convite com outra humildade? “Secalhar já te estou a ligar muito em cima da hora de jantar e até podes já ter outros planos mas há tanto tempo que já não nos vemos...o que achas de irmos jantar para meter a conversa em dia?” Depois de um discurso destes, só por razões de força maior é que não se altera o que já se tiver agendado. 
E no amor? “Será possivel que num dia inteiro estiveste tão ocupado que nem 30 secundos tiveste para me enviar um sms ou ligar para me dar um miminho? Quando falámos de manhã, interrompeste o nosso telefonema a dizer que precisavas de atender quem te estava a ligar, mas que já me ligavas a seguir...caramba, passou-se um dia inteiro! Não foste à casa de banho nem uma vez?!”
O que é que se ganha com este tipo de discurso? Absolutamente só se perde. Haveria outras formas em que poderiam ganhar os dois: quando o cobrador em vez de cobrar opta por ter paciência para perceber primeiro porque é que o outro permaneceu o dia inteiro tão ausente.
Porque não dizer assim? 
  • Amor, aconteceu alguma coisa contigo hoje? - (respiração lenta e profunda...) - Estás bem? - mesmo que só apeteça esfregar-lhe na cara a esfregona peçonhenta de lavar o chão!
  • E o outro, fica perplexo com a pergunta: Estou sim, mas porquê?! 
  • Ora, porque tenho tido vontade de falar contigo e estranhei nunca mais me dizeres nada desde que falámos de manhã!
Desta forma, o outro fica logo com a consciência pesada e vê imediatamente a sua falta: 
  • Tens razão, desculpa! 
Nesta última situação, garanto que é a relação dos dois que sai fortalecida, desde que haja honestidade.
Penso que todos nós devemos tentar ser mais calmos e mais tolerantes uns com os outros! Nunca ninguém é exatamente como nós queremos nem se comporta de acordo com as nossas expetativas. Todos nós temos dias difíceis e nem sempre estamos atentos aos que nos rodeiam e que nos importam mesmo.
Todos erramos e ninguém é perfeito. Para que havemos de exigir aos outros aquilo que nós próprios não conseguimos ser? 
Estas linhas não pretendem ser uma lição empertigada para esfregar na cara de alguém. É mais uma auto-confissão de mim mesma como cobradora profissional de faltas e promessas que tenho sido em muitas situações, mas que não quero continuar a ser. Porque sou inteligente e sei que posso conquistar o melhor daqueles de quem gosto de uma forma mais altruísta. E como me repetia alguém de quem hoje tenho muitas saudades: não é com vinagre que se apanham moscas!

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