sábado, 24 de dezembro de 2011

E se nos roubassem o Natal?!


Na semana passada uma amiga sugeriu-me que escrevesse sobre o espírito de Natal. Por onde andará este ano? - questionava-se ela. “As pessoas estão tristes, assustadas e com medo de tudo o que se está a passar. Eu pelo menos, este ano, não sinto o Espírito de Natal!” - desabafava ela comigo.
Desde então, tenho pensado repetidamente neste assunto. Antes de mais o que é o Espírito de Natal? É como um fato que se escolhe vestir ou umas luvas com que se aquece a Alma? Ou é uma espécie de mandado de captura que nos propomos obrigatoriamente a nós mesmos, nesta época do ano? A partir do dia 8 de Dezembro tenho que me sentir a festejar a quadra natalícia, sentenciamos. 
O problema do Natal é o mesmo que todos os compromissos sérios têm: quando se tornam obrigatórios, o prazer esmorece. Cumpre-se a obrigação. E depois fica no ar, a tal pergunta da minha amiga: onde pára este ano o meu Espírito de Natal? - no fundo era isto que ela queria dizer. Uma pessoa sente-se na obrigação de estar dentro do espírito, mesmo que não esteja para aí virado. 
Também tenho ouvido dizer, um pouco por todo o lado: eu não ligo muito ao Natal. Só festejo porque é um pretexto para estar em família ou porcausa das crianças! E neste tipo de afirmação, mais uma vez se torna explicito que aqueles que a proclamam, também andam à procura do tal Espírito de Natal.
E que tal, se pararmos para reflectir um pouco e imaginássemos se um ano destes, num futuro próximo ou até já no próximo ano, o nosso governo nos proibisse de festejar o Natal? Imaginem até um cenário mais grave: que saía  uma lei merkosarkoziana que para além de abolir o Natal, nos castigasse se teimássemos em comemorar mesmo dentro das nossas portas o mais pequeno esboço de manifestação natalícia? Ãh, o que é que todos nós faríamos? Revoltávamos-nos? Saíamos para a rua em união, em nome do Natal Roubado? Não acredito que aceitássemos uma imposição dessas sem nos manifestarmos. E mesmo que não conseguíssemos alterar essa lei, aposto que nos sentiríamos repugnados. Toda a gente se sentiria triste e oprimida. De repente, o Natal a quem tanta gente já não dá importância, por se ter transformado numa corrida louca ao consumo desenfreado e só fazer sentido se há dinheiro para gastar, recuperaria um sentido mais autêntico outra vez. Seria da maneira que algumas pessoas voltariam a pedir ao Menino Jesus que não deixasse de nascer no dia 25 de Dezembro em suas casas. Possivelmente, o Espírito de Natal renasceria dentro de cada um de nós, com menos egoísmo, indiferença e descuido. 
Já imaginaram se nos obrigassem a passar a noite de 24 de dezembro, às escuras? Aí sim, teríamos razões para ter medo e para estar assustados e tristes. No entanto, acredito que a nossa Fé, num momento como esse, se tornaria grande e encontrássemos o Espírito de Natal perdido.
Não estou a dar lições de moral a ninguém. Sou é da opinião que devemos celebrar este Natal de uma forma mais feliz e com mais sentido do que Natais anteriores de maior abundância. Porque o Menino Jesus nasceu numas palhinhas. Singelo e simples. Sem conforto, mas com amor. E é dentro de cada um de nós que ele deve continuar a nascer, para que nos dê força e luz para sermos melhores. Não só em intenções, mas em acções de verdade.
Respeito muito quem tem razões de sobra para não se sentir feliz este ano para festejar o Natal. Mas nós, os que não temos razões, e se nos deixássemos de lamúriar? E em vez disso, agradecessemos o que temos e oferecessemos a quem mais precisa, um pouco, do nosso bom Espírito de Natal! 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Javali que apanhou o comboio...


E se um javali estiver atrasado para apanhar o comboio? Mete-se no meio da linha e leva com o inter-cidades em cima. Problema resolvido. Pára-lo à força! 
Quem vinha atrás no Alfa de Lisboa para Faro é que tem de aguentar com um atraso de mais de 45 minutos. Em que ninguém sabe bem explicar o que aconteceu.
Os revisores avisam: inter-cidades que vai à nossa frente, avariou. Não se sabe quando vamos poder avançar. Só há uma linha! 
No principio nem sabiam dizer às pessoas em que sítio estavamos parados.
Claro que as pessoas ficaram logo em brasa. Agarraram-se aos telemóveis. Parecia o Titanic. Toda a gente a querer sair. Não foi logo possivel. Onde estão os revisores? As portas não abriam.
Finalmente houve autorização para sair. As pessoas queriam arejar. Informações sobre o sucedido é que ao certo não havia. Meia hora depois, lá soubemos que os bombeiros já estavam no sítio para retirar não sei o quê, que tinha avariado o inter-cidades. E ouviu-se falar de um javali como o causador do incidente.
Interpretação possivel? Já que não houve grandes explicações sobre o assunto por parte da CP: os bombeiros vieram ao local para reanimar o javali que queria apanhar à força o primeiro comboio que passasse para Faro. 
Tiveram de trazer um desfibrilhador do Hospital de Santa Marta para o animalzinho combalido. Um comboio é sempre um comboio. Mesmo que em cima de um Javali!
Quarenta e cinco minutos depois, o inter-cidades retomou ferido o seu caminho. E cerca de 50% das pessoas que viajavam no Alfa que vinha atrás - sofrendo de ansiedade, abandonaram entretanto o comboio e tiveram de arranjar outro meio de transporte para os seus destinos. Encontrei uns desse grupo que, acabaram por chegar à estação de Loulé, ao mesmo tempo do que aqueles que como eu, permaneceram fieis ao seu inter-cidades e ainda se riram com uma história mirabolante! 
Tanta ansiedade para quê?!
É o que acontece quando um javali apanha de repente um comboio...

domingo, 11 de dezembro de 2011

Galochas, intemporais...


Não sou fashion victim mas confesso que tenho uma certa pancada por galochas. E ontem  a minha amiga Juju, convenceu-me a pavonear-me com a minha ultima aquisição mesmo com um sol descomunal, porque ela tinha acabado de comprar umas e não queria ser ímpar. Confesso que senti os meus pés a quarenta graus à sombra! 
Mas esta paixão não é de agora que estão na moda. É desde sempre. Lembro-me de já sofrer desta pancada desde miúda. Tive umas galochas rosa. 
Já mais recentemente, lembro-me de ter ficado encantada com as galochas desenho leopardo de uma rapariga num museu em Londres! Qual quê? Passei o fim-de-semana a calcorrear sapatarias umas atrás das outras, à procura das ditas galochas...era inconcebível para mim que em Londres, não existissem nenhumas tão fashion como aquelas. Acabei por nem encontrar as ditas e perdi, um outro modelo que entretanto não voltei a encontrar mais noutra loja, porque na altura, estava com as outras fixadas na minha cabeçinha de alho chocho e preferi não as comprar. Enfim, voltei de Londres desapontadissima....sem a mais pequena esperança das galochas que nunca encontrei e das outras que perdi! Estes dilemas dizem muito do carácter de uma pessoa, acreditem!
Há uns três ou quatro anos, sem estar a pensar, encontrei umas galochas numa loja em Badajoz: lindas! Cheias de cores...com riscas, como se tivessem sido pintadas a pincel. Não resisti. Saí da loja agarrada às minhas galochas que nem criança mimada à sua barbie! Ainda hoje as tenho, encafuadas na dispensa. Usei-as umas duas vezes. Sabem porquê? Porque comprei o numero exato ao do meu pé e as maganas, feriam-me o calcanhar. Por isso, quando ontem a minha amiga - enquanto falava comigo ao telefone - se queixava de não estar a conseguir arrancar as suas dos pés. Estavam coladas, dizia ela! Avisei-a logo que não cometesse o mesmo erro que eu e as fosse trocar pelo número acima. Por isso, pela minha experiência, escolher a galocha certa é também um verdadeiro quebra-cabeças!
Este ano decidi-me por umas pretas, opacas, estilo jardinagem. Uma imitação cool e económica das reais Hunter! Comprei o número acima: 38. E finalmente posso dizer, que fiz a escolha certa. São fantásticas. Dão para usar com tudo e super-confortáveis. Pela módica quantia de....queriam saber, era? Não digo.
As galochas são também um fenómeno extremamente expressivo do regresso à ruralidade tão em voga atualmente - esquecendo o pormenor de serem de plástico!
A Juju ontem perguntava-me, orgulhosa do seu visual, no alto das suas galochas azuis, a planear levá-las no fim de semana em que vai a Paris: Achas que vou ser bem aceite nos Champs-elisées com as minhas galochas e o meu regador? 
Uma evolução de Amélie Poulin, mas mais rupestre...
Claro que sim....as galochas são uma pancada intemporal!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

E que tal, mais uma verruguinha...?


A maldade deveria vir escarrapachada na cara das pessoas. Para que quando se olhassem ao espelho sentissem vergonha do que fizeram e para que os outros as descobrissem mais facilmente. Quanto mais maldades fizessem, mais feias ficavam - como as máscaras das bruxas que se compram no carnaval! Tenho a certeza de que assim era possivel diminuir a maldade da face da terra. Já imaginaram se por cada maldade, lhes caíssem os dentes ou  aparecesse um dente podre? Ou então, o cabelo começasse a ficar verde; noutras vezes, a seguir a cada pensamento mau ou acção má, ficassem com uma pelada no cabelo ou aparecesse uma verruga enorme mesmo na ponta do nariz! As deformações podiam ser de vários géneros e quanto mais criatividade melhor, não interessa! A partir do momento em que surgissem, só desapareciam se fossem compensadas por uma catrefada de boas acções praticadas. As pessoas más ficariam em muito maus lençóis!
Eu sei que isto faz lembrar o pinóquio e pode parecer uma ideia muito infantil. Mas há pessoas que parecem só ter maldade dentro delas. Dizem só coisas negativas sobre os outros e com o objectivo de achincalhar, inventam histórias para denegrir os colegas, magoam e traiem as pessoas que confiam nelas, tudo nelas é falsidade. Como é feita então a justiça?
Há quem diga que todos temos dentro de nós, um anjo bom e outro mau. Eu não acredito nisso. É verdade que somos humanos e todos erramos. Quem não pregou já uma boa mentira a alguém de quem até não se gosta muito ou em quem não confia? Quem não desejou já um “vai-te lixar” num momento de irritação? Quem é que não inventou alguma história sobre um conhecido ou disse mal até de um amigo que teve uma atitude menos própria connosco? A diferença está, é se essas atitudes estão carregadas de maldade ou não.
Também é verdade que nem sempre controlamos o que sentimos. Mas existe uma voz dentro de cada um de nós, a que eu chamo a nossa essência. O nosso eu mais verdadeiro. Aquele que de quem não nos conseguimos esconder ou disfarçar. Quando estamos a mentir, diz-nos logo, “vá lá, a mim não me enganas!”. E é essa voz  - carregada de bons ou maus valores, que nos comanda e faz a destrinça entre pessoas boas e más, conforme os casos. Há quem tenha simplesmente uma voz de lobo - a essência má. E desta ideia, ninguém me faz arredar pé.
Há pessoas que são essencialmente más. E outras essencialmente boas. Por isso é que eu penso que deveria haver uma forma de as identificar e fazer justiça. Porque nos filmes e nos contos de fadas, o ajuste de contas é sempre feito no final. No entanto, na vida nem sempre é assim. Há pessoas que passam uma vida inteira a fazer mal a todos de quem se aproximam. Criam verdadeiros caminhos de sofrimento e devastação e parece que são intocáveis. Não é por acaso que existe o provérbio: “vaso ruim não quebra!”. 
E como não acredito na justiça natural nem em tangas infaliveis “do cá se faz cá se paga” e não consigo dar a outra face depois de ter levado uma bofetada, parece-me que a única solução seria aparecer-lhes a seguir a cada maldade uma deformação física visível, para se sentirem mal com o mal que provocam aos outros. Porque as pessoas que têm uma essência boa, quando erram, sofrem com a sua consciência. Não fizeram com má intenção. E arrependem-se. Ouvem a tal voz a repudiá-las e a chamá-las à razão. Enquanto que as pessoas más são lobos esfomeados que nunca estão satisfeitos, são insaciáveis. Se ficassem com as suas maldades cravadas na pele, seria a única forma de travar a maldade destas pessoas, uma vez que os seus valores não lhes criam consciência pesada.
E que tal mais uma verruguinha?...

domingo, 20 de novembro de 2011

Aventura no elevador do El Corte Inglês!

Todas as regras têm uma excepção. Se até ontem eu julgava que todos os funcionários do El Corte Inglês eram profissionais da mais elevada qualidade, eficiência e formação, mudei de ideias! Há sempre uma ovelha ranhosa em todo o lado, certo? E eu encontrei-a. 
Estava apressadíssima ao final do dia para ir buscar duas saias à lavandaria, correr de seguida ao supermercado para comprar o leite de soja light que está em promoção e só há mesmo lá e o seitan assado que adoro para fazer saladas....olhei para o relógio, vi 19h30 - ainda tenho tempo de ir buscar ao quinto piso, em 5 minutos, a correr, o Tupperware que preciso para os cereais e aproveitar o desconto de 20% - pode terminar entretanto! - É num instante, (pensei). 
Num instante? Só se for em pensamento! Na prática, tem de se ter muita paciência. Três elevadores. Hora de ponta. Seis andares, sub-cave e ainda os pisos do parque de estacionamento! Nota-se que conheço muito bem o El Corte Inglês, não se nota?
Enfim...decidi respirar calmamente. Vá, não olhes para as horas outra vez. Só passaram 2 minutos. Mesmo assim a espera até não foi longa! Entrei no primeiro que parou e cuja  seta verde indicava que ia para cima. Qual é o meu espanto, quando me vejo a ir até aos subúrbios das caves e sub-caves, a fazer uma sauna involuntária dentro de um elevador apinhado. E ainda bem que eu não sofro de claustrofobia! Claro que não pude deixar de expressar o meu desapontamento: “Vai descer? Caramba. Mas indicava que ia subir!”. Outro casal que estava ao meu lado acabou por concordar com o meu desabafo, afirmando também que o sinal do elevador tinha indicado ir subir! Eu rematei a conversa dizendo que já não era a primeira vez que isto acontecia: os sinais verdes levavam a enganos destes!
De repente, ouço um trovão. Um gato enraivecido, a salivar perante a sua presa. Vou-te comer...mas antes, parto-te aos pedaços! “Não são os elevadores que estão mal sinalizados. Voçê é que se enganou. Eles estão certos.” E passou a vociferar uma série de desinformações atabalhoadas que me fizeram ficar mais confusa quanto à funcionalidade dos elevadores! Vou ter de lá voltar e reparar bem, eu própria, para ver se entendi! Custa-me a crer que precise de um manual de instruções para elevadores! 
O dito indivíduo sai esbaforido. Zangado. A fixar-me pela última vez para garantir que eu - a sua presa - tinha ficado mesmo estatelada no chão, em pedaços! Só os ossos! 
Os seus queridos elevadores estão certos! Afinal, eu não sabia que os elevadores podiam ser pessoas e haver alguém com tanto carinho e compreensão por eles. Defendeu-os como irmãos! Só lhe apeteceu dizer: seus canalhas, se não entendem os meus queridos amigos....ãh, as setas verdes todas trocadas?! ãh, é porque são burros! E depois vêm para aqui dizer mal do meu trabalho!
Ficámos os três perplexos. Ainda bem que naquele momento já não havia mais ninguém no elevador. Senti-me pequenina. Quase ia ficando com um olho negro, só por ir comprar um Tupperware ao El corte inglês! 
No final, eu só consegui balbuciar: “mas o que foi isto? Quase ia levando uma sova!”. O rapaz que fazia parte do casal protagonista comigo, disse: “só pode ser o responsável dos elevadores!”.
Recuei então uns segundos no filme que tinha acabado de viver: e só podia ser mesmo um funcionário do El Corte Inglês. Usava farda. Eu é que não tinha reparado!
O importante aqui não era discutir quem estava certo ou errado. Como profissional devia ter-nos informado com bons modos. E mais nada.
O importante aqui é que o El Corte Inglês é conhecido por ter um serviço ao público eximio e que não encontra comparação em termos de qualidade, eficiência e formação: o cliente tem sempre razão. Ponto. Mesmo quando não tem! 
Se este senhor se esqueceu do principio que rege esta cadeia para a qual trabalha, já é mau. Muito pior é a sua falta de boas maneiras e formação! 

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Do que é que as mulheres se queixam?

Numa amena cavaqueira entre mulheres, surgiu espontaneamente uma queixa comum relativa aos seus parceiros: todos dormem demasiado! Só querem dormir nos fins de semana, em vez de ocuparem o tempo com outras actividades mais interessantes. Dormem depois de almoço, dormem a seguir ao jantar, quando o despertador toca, nunca toca só uma vez para os acordar e voltam a adormecer depois do sexo!
Porque tanto dormem os homens?!
Fui vasculhar alguns artigos que têm saído em várias publicações e há realmente motivos hormonais - que não me apetece agora estar para aqui a descrever - que criam diferenças entre o sono das mulheres e dos homens. Quem estiver interessado, vá ao Google...
Mas as queixas mais frequentes das mulheres relativamente aos seus cônjuges não se ficam por aqui. Existe outra no top das preferências: ajudarem pouco nas tarefas domésticas; ou então, serem pouco atenciosos no dia a dia; ainda em relação ao sono, há os que ressonam muito e parecem autênticas locomotivas - quem consegue dormir?!
São geralmente mais egoistas na tomada de decisões ou na escolha das suas prioridades, dizem elas! 
Pensam muito em sexo e não percebem as diferenças hormonais e até mesmo os diferentes graus de desejo sexual pelos quais as mulheres passam durante a semana: quando estão stressadas, não. Quando estão cansadas, muito menos...claro que não! E se estão a fazer alguma coisa mais interessante...é óbvio, nem pensar! E há ainda as dores de cabeça ou para as mais compulsivas, as enxaquecas! 
As mulheres também se queixam deles serem pouco compreensivos, ou seja, não compreendem as luas femininas nem adivinham os seus desejos! Outra queixa muito comum, é a de se esquecerem de ligar por tudo e por nada. E são massacrados por estarem ausentes. Dizem poucas vezes, o quanto as amam - porque não sabem que elas não conseguem ler esse amor pelas suas acções. 
Há ainda as que se queixam de que prestam pouca ajuda e vigilância aos filhos ou que não têm grande paciência para eles! Enfim, as mulheres têm uma lista infindável de queixas a fazer dos “seus homens”!
Eu na realidade, não sei quem é mais incompreendido: se o homem ou a mulher!
As mulheres idealizam um mundo perfeito onde gostariam de viver e não se satisfazem por menos. Os homens não conseguem imaginar sequer esse mundo secreto onde elas vivem! 
As mulheres constroem tudo de raiz, pilar a pilar, tudo arrumado e aí, de quem lá vá meter o nariz! São muito senhoras de si e do seu espaço. Os homens vagueiam por vários espaços, sem se organizar, de acordo com as suas vontades e desejos momentâneos. 
As mulheres pensam de mais e acabam por se perder nos seus próprios meandros dos pensamentos. Os homens pensam pouco, desde que o seu caos esteja em ordem, não pensam. Entretem-se com os seus afazeres e os seus hobbies. Vivem felizes com menos. Contentam-se por menos. 
As mulheres assistiram a muitos filmes românticos na adolescência. Os homens preferem os filmes de ação. Elas vivem nesse mundo imaginário em que tudo é perfeito e lidam mal com a imperfeição. 
Elas querem mudar o mundo. Queixam-se. Eles acomodam-se a viver com o que têm e vão alterando pequenas coisas no seu dia a dia. Ou não alteram nada.
No entanto, acho que o fulcral da questão de existirem tantas queixas acumuladas tem a ver sobretudo com um único fator: as mulheres subjugam-se mais no inicio dos relacionamentos. Fazem parecer ser o que não são. São menos verdadeiras que os homens. E depois fartam-se mais depressa de se esforçar e sacrificar em prol da outra pessoa. E daí, as queixas frequentes. Estão sempre à espera que lhe retribuam em gratificações, os “sacos” que tiveram que engolir. A maioria dos homens não está para isso. São mais genuínos nas relações. São mais verdadeiros desde o ínicio. Não escondem tanto os defeitos e por isso, também não exigem tanto. Por vezes, também eles precisariam de ser mais compreendidos! 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Perdão

Ao meu Avô


Se fosse fácil perdoar, seriamos todos Madres Teresas de Calcutá, Mandelas ou Jesus Cristo. Mas estes são excepção! Não são simples mortais como nós. Com visceras e defeitos...pelo menos tão salientes!
Perdoar dói. Não perdoar doi também!
A capacidade de perdoar existe em todas pessoas, só que em quantidades e a velocidades diferentes. Não vale a pena discutir nem opinar sobre isso, porque cada um processa o seu dom de perdoar de uma forma muito pessoal e intransmissível. Por vezes, até inconsciente.
O perdão entra no nosso coração com o passar dos dias. É necessário primeiro sofrer, ralhar, afastar, não compreender. Depois à medida que nos afastamos, as águas turvas começam a limpar e um dia, a lagoa volta a ter água pura e transparente. E no fundo dessa lagoa, peixes novos nascem e vegetação floresce e os raios de luz iluminam a àgua de cores intensas. O Perdão surge então como um raio de Luz, atravessando a lagoa e abrindo o coração de par em par!
Mas há momentos em que as pessoas precisam de se afastar. Chega-se a situações em que o beco sem saída das discussões, mal-entendidos, acusações, mágoas e reprimendas só possibilitam esse fim. Por maior que seja o sofrimento, é esta a melhor decisão. Nós humanos, somos muito estúpidos. Embutidos de sentimentos, confudimos tudo. A distância torna-se então imprescindível para compreender ou aceitar. 
No principio, a mínima ideia de Perdão causa calafrios. Perdoar? Isso é coisa de fracos! Nunca. Jamais. Nevermore. “ O que me fez, desta vez é indesculpável!” - estejamos a falar de quem quer que seja. Há histórias sangrentas de todos os tipos e para todos os gostos. As pessoas chateiam-se por muitas razões. Guerreiam sem sentido. Mas não é dessas lutas mesquinhas que eu falo.
Falo de pessoas que gostam muito umas das outras. Relações de verdadeira amizade, familiares ou amorosas. E que por qualquer motivo - nunca é só por um - começam a desentender-se. Até terem de se separar. Para sempre. Ou por uns tempos. A dor  inunda a decisão. Mas racionalmente não há outra opção. 
Quem me está a ler neste momento, poderá discordar de mim: dizendo que há sempre a possibilidade do perdão. Mas quando o perdão já foi inumeras vezes usado e com demasiada frequência. A sua capacidade esgota-se. E o seu poder praticamente desaparece. Somos humanos. Perdoamos até determinados limites. 
Por isso, é que pessoas que gostam muito umas das outras, por vezes têm de se afastar. Para não se odiar. Para salvarem o seu próprio amor! Parece antagónico eu estar a dizer uma coisa destas. Mas não é. Quando duas pessoas começam a falar em dialetos diferentes ou só se ouve ruidos nas comunicações. Não há outra hipótese. Tem de se cortar. É como o Spam que recebemos por email. Tem de se excluir e apagar. 
E depois vem o tempo. A receita tradicional para todos os males. Por mais inovações que a medicina invente, não há nada que o supere. O tempo acalma. Faz-nos entender o que não sabiamos explicar ou mesmo que nunca venhamos a entender, ajuda-nos a não dar tanta importância ao que aconteceu. Ajuda-nos a deixar apenas de culpar ou acusar e  à medida que a saudade daquela pessoa de quem nos separámos aumenta, conseguimos também descobrir que nem sempre agimos da melhor forma. Podíamos ter feito diferente. E é aí que o Perdão ganha terreno dentro do nosso coração. Quando no meio dos nossos silêncios, surge a imagem dessa pessoa ou mesmo nos nossos sonhos e vemo-nos a abraçá-la! O amor ressurge com uma nova intensidade.
E há um dia em que pegamos em nós e temos a coragem que nos tem faltado até agora. E tornamos aquele abraço de sonho e há tanto tempo tão desejado, realidade! Nesse momento, sabemos que podemos fazer diferente. Vamos recomeçar! 
O Perdão é o príncipio...de uma vida mais feliz!

sábado, 29 de outubro de 2011

As oportunidades...

Estão a imaginar aquele tipo de pessoas que sempre que as encontramos só nos fazem  pensar: deixa-me ver qual vai ser hoje a teoria ou a história que me vai inventar?
Roliço, anafado, bola de carne, óculos pequenos para os olhos demasiado expressivos e vivos, cara redonda, artista da Globo - por acaso, brasileiro! - que saudades do ator “Viva o Gordo!” - é ele!
Nunca seria capaz de fazer dele uma caricatura justa, sem parecer empobrecida.
Hoje a sua teoria era esta: “cada um na sua prateleira, todos têm um preço! E aquele que diz que não tem, é porque ainda ninguém o quis comprar.” 
O mais engraçado nesta personagem é que as teorias que ele apregoa ao longo das conversas, não têm nada que ver com o que se está a falar. É que nem uma fotografia desfocada são. É como se o autor da fotografia nos estivesse a descrever a paisagem de um lago na Irlanda...e nós, estarmos a ver na mesma fotografia os arranha-céus de Nova-Iorque! Sim, sim...Tudo a ver.
Haveriam de ver o ar sério e profundo com que ele desfia as teorias, dando exemplos pessoais, abrindo muito os olhos azuis e repetindo as frases com que personifica as suas ideias. Não é um filósofo. É um mago. E imaginem, com sotaque brasileiro!
E quando uma pessoa já está a pensar: como é que eu saio daqui? Como consigo escapulir-me? Vem a próxima. De rompante. Apagão eléctrico na cidade. Sem tempo para respirar silêncio. Pausa. “Todos temos a óporrtunidádji* da nossa vida - diz - e senão a agarrarmos - e enquanto fala, faz em simultâneo o gesto de agarrar na gordurinha do seu próprio braço (como se a oportunidade estivesse lá!). Continua - “senão a agarrarmos, passamos o resto da vida pensando no momento em que a perdemos.” 
Esbugalhando muito os olhos - sábio, apóstolo - prossegue: “ Sabemos exactamente o momento em que a perdemos.” - auferindo agora um tom trágico, para logo a seguir, dar um encolher de ombros, aliviado: “Mas graças a Deus, eu tenho apanhado todas as óporrtunidádjiis*! Todas! Não posso me queixar.”
E a minha oportunidade - a de me escapulir - quando virá? 
óporrtunidádji* = oportunidade
óporrtunidádjiis* = oportunidades

domingo, 23 de outubro de 2011

Sumo de Laranja, nova fragrância de verão!

Tenho um amigo que em tudo o que se mete é a fundo! Não há travão para ele. A não ser que se esborrache por sua culpa e risco contra a parede. E foi o que aconteceu hoje.
Nas últimas semanas começou a beber desenfreadamente sumos naturais, às mais variadas horas do dia, porque viu uns videos no You Tube de um senhor já com uma certa idade (mais de setenta anos) cuja alimentação é à base de sumos de fruta e de vegetais e que vende uma saúde de ferro e um aspecto incrivelmente jovem! Para além de já ter lido imensos artigos sobre o assunto e de já há muito tempo discutir  e trocar ideias, livros e videos com vários amigos que também são adeptos de praticar uma alimentação mais saudável.
Garanto-vos, quando ele se interessa por um assunto, ele procura todo o tipo de informações para aprender ao máximo e poder falar do assunto que lhe interessa como um verdadeiro expert! Esta busca de informação sobre algo, pode durar meses ou até anos e no auge do seu interesse é vertiginosa! Cursos, revistas, compra tudo o que sirva para praticar o hobbie ou para o ajudar a ganhar conhecimento e sabedoria. Hoje em dia, essa busca é-lhe facilitada pelo I-Pad e pela internet - parece uma formiguinha a laborar sem parar, para armazenar comidinha para o inverno ou no caso dele, informação! Enquanto não se desinteressar, é aprender tudo o que possa. Já foi assim com a fotografia, com o próprio Holandês (enquanto não aprendeu a falar corretamente não se cansou!), com alguns desportos (praticou uma série deles, como vela, snowboard,etc; o mais recente, foi o Golfe), é assim com a arte de cozinhar e desde alguns anos que nutre uma enorme paixão pelos vinhos! Agora começa a ser a alimentação saudável - vegetariana. 
Começou por experimentar as deliciosas receitas de sumos com a Bimby, mas chegou à conclusão que nem todos os frutos com casca ficavam perfeitos em termos de sabor e textura! Lembrou-se então duma máquina de sumos super-sónica que o pai dele comprara há uns tempos e que por agora, já andava esquecida: levou-a para o escritório! A partir daí os seus dias nunca mais foram os mesmos: e sai um sumo de laranja com a casca branca (que faz bem para criar cabelo e é anti-envelhecimento e mais uma série de coisas que ele já leu!). Este é o sumo dos Deuses! Não estivesse o Algarve cheio de laranjas e ele já tinha tomado conta das encomendas que vão para todos os Pingo Doces da zona! E sai um sumo de couve, cenoura e aipo; outro de beterraba, maçã e abóbora; e o delicioso sumo de melancia com casca e tudo!  É de beber e ir à casa de banho uma porção de vezes, porque eu já sou diurética por natureza quanto mais com meio litro de sumo de melancia! Sem esquecer os bróculos e os espinafres! Agora, é que é! Aproveita-se as cascas, que é o que contém mais nutrientes; aproveitam-se as grainhas! Não há desperdícios! O meu amigo pratica a lei de Lavoisier - na natureza nada se perde, tudo se transforma!
Tanto aproveitamento, que hoje culminou numa combustão eléctrica com o estômago às voltas e a fazer barulhinhos de tanta vitamina concentrada, nutrientes aos pontapés e energia a transbordar! Tudo porquê? Porque decidiu simplificar o processo da descasca das laranjas - que sempre requer algum trabalho e precisão - tem de ficar a casca branca! E decidiu despachar o assunto metendo as laranjas inteiras! Claro que para além de o sumo ter ficado amargo - eu nem o provei, mas ele só se desmanchou no final! - passou o dia inteiro a arrotar às malditas laranjas! Mas pior, sempre que me chegava ao pé dele e já a tarde ia a mais de meio, ele só cheirava a laranja! Misturado com o perfume, até parecia uma nova fragrância de verão! 
À noite ainda recebi um sms de sua excelência a rogar já pragas às viçosas e sumarentas laranjas com casquinha e caroços! Continuavam no seu bandulho a fazer uma viagem interminável e sonoramente sumarenta!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Povo sem esperança!

Hoje por onde andei só se ouvia falar por todo o lado dos enormes sacrifícios a que todos nós estamos sujeitos pelo desastre a que Portugal chegou. O facto é este: um país para ser soberano precisa além da soberania politica, de ter independência económica. O que acontece com Portugal é que o dinheiro acabou e estamos completamente dependentes da ajuda externa para pagar bens essenciais: como os médicos e os enfermeiros dos hospitais, para pagar as nossas importações, para que os funcionários dos CTTs continuem a receber o seu salário bem como os professores das faculdades e do ensino primário. Até mesmo os salários imaculados dos nossos governantes e dos deputados do Parlamento poderiam estar em risco!
Agora imaginemos isto a um nível micro-económico: uma familia com dois filhos e com um rendimento mensal total de 1200 euros, com uma mensalidade de 350 euros para pagar o empréstimo da casa, mais os gastos de luz, água e gás; as despesas mensais de duas crianças, uma na creche e outra na escola primária. De repente, vê os juros do empréstimo do banco a aumentar, os preços dos bens primários a subir pela consequente subida dos impostos agravados por esta situação. Imaginemos que o casal já tinha contraído dois empréstimos para adquirir mobiliário lá para casa ou outros bens e o plafond dos dois cartões de crédito foram completamente ultrapassados! O que é que acontece a estas duas pessoas responsáveis por si e pelos seus dois filhos? O desespero. A desesperança.  
Até onde vai o limite dos sacrifícios que nos são impostos? Até onde é possivel manter a sanidade mental de um povo que apesar de compreender que não há outra solução, não deixa de se sentir roubado e enganado com todos aqueles que nas últimas duas décadas nos governaram e permitiram que chegássemos ao abismo onde caímos?
O que as pessoas pensam é: mas porque tenho eu que estar a pagar uma divída que não fui eu que contraí? O que foi feito do dinheiro? Eu nunca lhe mexi. Agora dizem que foi todo gasto e mal gasto? Evaporou? Nunca existiu? Ninguém entende nada de nada. E o pior é que quem nos governa e nos está a exigir todos estes sacrifícios, não nos garante qualquer segurança de que vai valer a pena e de que vamos conseguir sobreviver sem ir completamente ao fundo. De que tamanho e dimensão tem esse fundo? Ninguém nos sabe explicar. 
Mesmo aqueles que têm condições acima da média e estão em lugares de destaque, conseguirão viver felizes num país, onde vão ver a cada esquina miséria e volência? Com esses não me importo eu. Importo-me é com aqueles que têm de fazer o milagre da multiplicação com cinco euros por dia para dar alimento à sua família. E aqueles que nem com isso já contam?
Não imagino o futuro. E penso que neste momento há muita gente perplexa e sem  sequer imaginar o que trás esse futuro. Ninguém sabe explicar bem o que está a acontecer. Ninguém sabe garantir-nos de que irá ser melhor. Pelo contrário, só nos sabem garantir de que ainda vai ser pior. Chegou-se a um ponto de interrogação sem fim à vista. 
Como se consegue motivar um povo a fazer sacrifícios, se esses sacrifícios passam pelo aumento do desemprego, pela retirada dos subsídios de Natal e férias, pela subida dos preços de produtos essenciais, pela diminuição de beneficios nos setores chave do estado social, como a saúde, a edução e a justiça? Como se pede a um povo que poupe, se para a grande maioria, o dinheiro não chega nem para metade do mês? 
E o pior disto tudo é que a nossa classe política para além de ser comandada pelo poder económico e servir apenas os seus interesses, consegue ainda ter o descaramento de nos ter tirado a esperança de ter um futuro. 
É como se nos dissessem: O futuro não existe, sacrifiquem-se pelo erros que cometemos no passado!
A esperança é a última a morrer - sempre ouvi dizer. E quando até a esperança já nos roubaram? Como se consegue viver com a sua ausência? 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O direito de cobrar

Quem cobra sente-se sempre mal e quem é alvo de cobrança, sente-se injustiçado.
Quem cobra afectos, promessas, companhia, atenção - está sempre numa posição de inferioridade, seja numa relação profissional, amorosa ou de amizade. E quem é alvo dessa cobrança, acaba por se afastar revoltado e zangado, sentindo que não são justas as exigências nem as acusações que lhe estão a fazer!
Eu não tinha ideia do efeito negativo que cobranças repetidas e frequentes - a propósito de tudo - podem ter para qualquer tipo de relacionamento, até sentir isso na pele. Ou seja, ser eu a vitima dessas cobranças!
Há muitas outras formas através das quais podemos expressar a nossa tristeza ou desapontamento relativamente a uma atitude do outro que nos tenha magoado, sem ser necessário utilizar o disco rigido e severo que é a cobrança, pura e dura. 
Julgo que a cobrança é a forma eleita das pessoas orgulhosas e que não se sentem à vontade em expressar os seus sentimentos, sem ficarem com a sensação de estar a expôr em demasia a sua fraqueza e por isso, preferem optar pelo cinturão de forças e pelo chicote. 
Terão os amigos direito de nos cobrar que não lhes ligamos ou que já há muito tempo não  estamos com eles? Sim e não. Penso é que não é com acusações e queixas repetidas e  por vezes até fora de contexto que se deve exprimir esse sentimento. Há muitas maneiras de fazermos sentir aos outros que gostavamos de estar com eles e que é bom estarem mais presentes porque fazem falta. “És sempre a mesma, nunca podes vir jantar!”, esquecendo-se de que o convite está a ser feito mesmo em cima das 20h00 e como será natural, até podia já ter jantado. Porque não fazer o convite com outra humildade? “Secalhar já te estou a ligar muito em cima da hora de jantar e até podes já ter outros planos mas há tanto tempo que já não nos vemos...o que achas de irmos jantar para meter a conversa em dia?” Depois de um discurso destes, só por razões de força maior é que não se altera o que já se tiver agendado. 
E no amor? “Será possivel que num dia inteiro estiveste tão ocupado que nem 30 secundos tiveste para me enviar um sms ou ligar para me dar um miminho? Quando falámos de manhã, interrompeste o nosso telefonema a dizer que precisavas de atender quem te estava a ligar, mas que já me ligavas a seguir...caramba, passou-se um dia inteiro! Não foste à casa de banho nem uma vez?!”
O que é que se ganha com este tipo de discurso? Absolutamente só se perde. Haveria outras formas em que poderiam ganhar os dois: quando o cobrador em vez de cobrar opta por ter paciência para perceber primeiro porque é que o outro permaneceu o dia inteiro tão ausente.
Porque não dizer assim? 
  • Amor, aconteceu alguma coisa contigo hoje? - (respiração lenta e profunda...) - Estás bem? - mesmo que só apeteça esfregar-lhe na cara a esfregona peçonhenta de lavar o chão!
  • E o outro, fica perplexo com a pergunta: Estou sim, mas porquê?! 
  • Ora, porque tenho tido vontade de falar contigo e estranhei nunca mais me dizeres nada desde que falámos de manhã!
Desta forma, o outro fica logo com a consciência pesada e vê imediatamente a sua falta: 
  • Tens razão, desculpa! 
Nesta última situação, garanto que é a relação dos dois que sai fortalecida, desde que haja honestidade.
Penso que todos nós devemos tentar ser mais calmos e mais tolerantes uns com os outros! Nunca ninguém é exatamente como nós queremos nem se comporta de acordo com as nossas expetativas. Todos nós temos dias difíceis e nem sempre estamos atentos aos que nos rodeiam e que nos importam mesmo.
Todos erramos e ninguém é perfeito. Para que havemos de exigir aos outros aquilo que nós próprios não conseguimos ser? 
Estas linhas não pretendem ser uma lição empertigada para esfregar na cara de alguém. É mais uma auto-confissão de mim mesma como cobradora profissional de faltas e promessas que tenho sido em muitas situações, mas que não quero continuar a ser. Porque sou inteligente e sei que posso conquistar o melhor daqueles de quem gosto de uma forma mais altruísta. E como me repetia alguém de quem hoje tenho muitas saudades: não é com vinagre que se apanham moscas!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Steve Jobs, a Apple iluminada!

Morreu Steve Jobs - o deus criador da Apple - a maçã verde em quem todos querem dar uma dentadinha de tão saborosa que é - a empresa que é atualmente a mais valiosa do mundo!
Muitos alcunham-no de brilhante ou visionário - apesar de eu achar que são os adjetivos mais fáceis que saiem da boca, sempre que se pretende falar de alguém que se distinguiu de uma forma tão abismal. 
Eu prefiro dizer que Steve Jobs foi um iluminado! Porque o seu cérebro não se deixou confinar ao que era possível. Ele sonhou tão entusiasticamente o castelo maravilha que pretendia construir mesmo fora da Escócia e ultrapassou todas as dificuldades ou obstáculos! 
Viveu para o que acreditava e realizou o seu mundo que mudou o nosso mundo!
Para quem o conheceu mais de perto, dizem que o seu lema era viver todos os dias como se fosse o último e por isso mesmo, dedicou a sua vida à sua grande paixão. Sobreviveu  pouco mais de um mês após se ter retirado da Apple! Hoje ouviu-o  num discurso para uma imensa plateia de estudantes universitários, onde dizia que após ter sido confrontado com a perspetiva da morte, deixou de ter medo. Eu não acredito que alguma vez ele tenha tido medo do que quer que seja, a não ser de morrer antes de concretizar os seus sonhos!
Foi o criador do rato e do I-Phone 1 e morreu na data do lançamento do I-Phone 4S. Penso que é um dado simbólico e ao mesmo tempo demonstrativo que nada acontece por acaso. Até arriscaria a dizer que este, foi o seu último contributo à Apple, para a ajudar a que ainda se vendam mais I-Phones por esse mundo fora!
Apesar de estarmos a viver os dias contados do capitalismo selvagem e de ter ouvido funcionários das lojas Apple dizerem que ele não gostaria que as lojas tivessem encerrado. Eu mesmo assim discordo. Um dia de silêncio e de portas fechadas em todo o mundo, seria o mínimo que a Applezinha poderia ter feito, para agradecer a quem fez tanto por ela e a tornou tão luminosa!

sábado, 24 de setembro de 2011

Farto de estar feliz? Ouça as noticias....

Se o dia hoje lhe estiver a correr bem e chegar ao final do dia bem disposto e com energia revigorada, não se contente com isso! Sem hesitar, percorra os telejornais dos vários canais de televisão e vai ver como em breves minutos ou até segundos, acaba com a sua boa disposição!
Afunda-se no sofá, fica de repente pesado. Se ainda não tiver jantado - a comida vai saber-lhe azeda e cair-lhe no estômago em seco, como um murro! - e vai assentar-lhe mal, tenho a certeza. Com muita sorte, não terá uma indigestão!
Mas o mal não é só físico - sentia-se feliz e satisfeito? Era isso? Era, diz bem. Fixe-se numa ou em duas noticias com mais empenho e vai ver que muito em breve, se sentirá um lixo, com vontade de se atirar da janela da cozinha - se tiver uma, senão, doutro sitio qualquer! Garanto-lhe que tão depressa não acreditará num futuro risonho, nem para si nem para os seus.
Sente-se a afundar, como se tivesse colocado os pés em areias movediças? Sente-se pesado, uma pedra no charco? Sente-se deprimido?...amanhã vai pedir ao médico que lhe receite um anti-depressivo!
Pronto, eles conseguiram o que pretendiam: fazê-lo sentir-se mal, culpado, inseguro e descrente. 
As notícias que nos são transmitidas, não é que não sejam verdadeiras. Mas são manipuladas para que só “ouçamos” o que os poderes politico, económico e financeiro desejam. Anestesiam a mente das pessoas com notícias pouco relevantes para que outras mais importantes passem despercebidas ou então, exageram os factos e multiplicam-nos para criar a sensação de caos.
É bom que só se ouça falar da Gripe A ou da infecção dos pepinos (E-coli). Ou como diz um amigo meu, “já reparaste que houve uma altura em que só havia velhos a morrer todos os dias, sozinhos em casa?”. E o fenómeno dos assaltos às caixas multibanco? Nunca mais houve? Estranho.
Agora, é só empresas a fechar e mais e mais desemprego; histórias de familias endividadas; o default da Grécia, a austeridade da Troika, o desvio da Madeira by João Jardim, os cortes a todos os direitos que já detinhamos como eternos, a crise, a crise, a crise!
Fique com medo e não reaja. É isto que se pretende.
As pessoas bloqueiam perante o medo. Ficam inativas, inertes, fracas e periclitantes. Aceitam tudo o que lhes seja imposto. Torna-se muito mais fácil, manobrá-las!
Não nos podemos deixar abater! Hoje em dia é mais que imperativo reforçar os nossos valores e acreditar nas nossas capacidades. Há milhares de coisas boas a acontecer no mundo todos os dias e ninguém fala delas! 
Se neste momento, algum dos canais de televisão tivesse a ousadia de criar um noticiário só para dar notícias boas, aposto que em duas ou três emissões, superaria os maiores índices de audiências!
Eu pelo menos, seria logo uma das primeiras a aderir! Estou farta que as minhas deliciosas sopas, à noite, me caiam mal e me enfartem.

domingo, 18 de setembro de 2011

Às orgulhosamente sós!


No outro dia disseste-me que preferias estar sozinha a sofrer mais. Sofrer é que tu não queres. Deixa lá, não és a única! Se perguntares a qualquer pessoa se gosta de sofrer, a resposta é unânime. Não. Só os masoquistas terão uma resposta diferente. E mesmo a esses eu acredito que lhes dê prazer sofrer de amor!
O que eu pretendi dizer-te é aquilo que tu nunca aceitas quando eu te digo. Fazes orelhas  moucas. E continuas na tua direcção. Com a teimosia do costume.
Dizes-me a mim que não espere pelo Principe encantado, porque nenhum homem é perfeito. O que interessa é que goste de nós e nos trate bem, dizes! Mas tu estás de pedra e cal, tipo estátua de pedra, da praceta da minha terra onde a banda vinha tocar aos domingos, à espera do tal Principe que tu me dizes a mim que não espere, porque não virá. Não existe! Porque te guardas então para ele? Porque gostas de ser parva, é? Ou porque os conselhos que me dás, são só para os outros?
Eu sei que precisavas de fazer um luto. De estar sozinha e de te encontrares. Mas penso que todo o luto tem um tempo. E a validade do teu, já terminou há muito! No outro dia quando o tiraste do frigorifico (o luto, entenda-se!), para decidires se era desta que tinhas a maldita coragem de o atirares para o lixo, já nem bolor tinha, tinha musgo e pequenas lagartixas....às bolinhas verdes! Um verdadeiro nojo, pensaste. Mas agora, onde é que o ponho? E voltaste a colocá-lo na mesma caixinha, fechaste-o para estancar o mau cheiro e ficou mesmo na última prateleira do frigorifico, lá atrás, para não te lembrares muito dele. Cara amiga, o luto continua lá. Dentro de ti. Mesmo que o queiras esconder de todos! 
Nota-se nas tuas palavras amargas. Nas tuas frases sem esperança. Na tua falta de motivação para quereres interessar-te por alguém. Não queres. E tu sabes porquê. E eu já te digo, daqui a poucas linhas. É só para criar suspense!
Como queres que alguém te interesse, se inventas mil e um defeitos a cada pessoa que conheces desde o primeiro contacto? O homem ainda mal sorriu e já tu estás a pensar “o que vou eu descobrir em ti para que me repugnes?”. E os poucos que até achas interessantes - disse poucos? Poucos não. O minimésimo do felizardo que até achas “jeitoso” ou minimamente interessante, espanta-lo. Tal e qual como os espantalhos servem para afugentar pássaros das cultivações! Pões a tua cara mais séria, o teu ar mais arrogante, falas de alto para baixo, orgulhosamente só e independente, com a presunção de seres inalcansável e não dás a perceber o menor lampejo da doçura de pessoa que tu és, do imenso humor que te caracteriza e que tanto nos faz rir, da inteligência que possuis sem ser extravagante, do imenso carinho que podes dar e da protecção que tanto precisas de ter!
Não és uma super-mulher! Não queiras parecê-lo! Sê tu própria. Como és comigo, quando sorris, quando dizemos piadas a propósito de tudo e de ninguém, quando trocamos confidências e abandonas aquele ar sério e imponente de profissional de êxito a tempo inteiro. Sempre que vestes a tua pele e despes a “armadura” que inventaste para te tornares aço inquebrável, tu tornas-te linda e maravilhosa! Voltas a iluminar-te e sorris de dentro para mim!
Quero portanto, que de uma vez por todas deites fora, o luto que guardas religiosamente dentro de ti ou do teu frigorifico, como lhe queiras chamar! E te deixes conhecer aos outros por aquilo que és. Como és. Porque tu acreditas no amor! Só que tu queres que te encontrem. E depois de te encontrarem, queres que destruam a tua armadura. Te idolatrem. E façam por ti os sacrifícios mais inconcebíveis, como ir à lua primeiro apanhar laranjas e só depois disso, tu aceitas o convite para um mísero jantar. “E sem velas, se faz favor! Que eu não sou romântica e nem acredito no amor pateta!”
Mas tu acreditas no amor. Tu não acreditas é que ele volte a existir na tua vida. Não porque não queiras. Mas porque tens medo. Medo de voltar a sofrer! 
E não te apercebes? - apercebeste sim, que também sofres por estar sozinha e sobretudo por não te permitires ser livre e feliz! Tu dizes que tentas e que estás muito melhor. Poça também para ti, se não estivesses ao final deste tempo todo! Mas não estaria a ser tua amiga, se não te dissesse que precisas mesmo de dar um passo em frente. De te deixares ir. Que tal abandonares a pose de mulher de pedra? Que tal encarnares em ti? Quem se guarda demasiado perde as virtudes. A entrega é um acto de auto-valorização. Ser destemido. O arrependimento fica para os que não tiveram a mesma coragem. A paixão morre asfixiada na garganta em silêncio. E a vida passa-nos por cima, como o ferro de engomar, sem amor. Ou pelo menos sem que tentemos conquistar quem se aproxima de nós. Tu estás a fazer o caminho inverso: afastas de ti, todo o ser estranho, do sexo masculino que tenha a mais pequena pretensão de se aproximar de ti! Ninguém está à tua altura. Guardas-te tanto que ficaste demasiado valiosa...e orgulhosamente só! 

domingo, 11 de setembro de 2011

Pequenas mentiras entre amigos


“Pequenas mentiras entre amigos” é o filme que me tocou a alma e o coração de uma forma tão profunda e tão real como já há muito tempo não me lembro de isso acontecer.
Chorei e ri tão intensamente. Vibrei com as personagens. E arrepiei-me com a familiaridade da história.
Pode ser a história de qualquer um ou de alguém que conhecemos. No fundo, naquele grupo de amigos, há sempre alguém que nos faz lembrar alguém. 
O sentido da vida. Qual é o nosso sentido da vida? A amizade. O amor. A solidariedade. Coisas que nos enaltecem e nos fazem sair da mediocridade do nosso dia a dia, tantas vezes vazio. Todos aqueles personagens andam à procura desse sentido da vida. E cada um deles o encontra no afecto e na amizade que os junta uns aos outros.
No centro da história, há uma tragédia. E é à roda dessa tragédia - da qual todos tentam fugir, numa primeira abordagem que o filme começa.
Um amigo sofre um acidente de moto e fica nos cuidados intensivos. Vão todos a correr vê-lo. Mas as férias estão à porta. O que mais podem fazer por ele? Ele não fala. Valerá a pena cancelar as férias para ficar ao lado de uma pessoa que mal se apercebe de que está acompanhado? 
E é durante essas férias que ficamos a conhecer cada um dos personagens. O realizador consegue mostrar-nos de forma poética e ao mesmo tempo a cru, com um humor por vezes azedo e agridoce, as manias, os defeitos, as qualidades, os medos, as crenças e descrenças de todos aqueles personagens que passam férias juntos. Os grandes planos que ele faz às faces, é brilhante. Ficamos a conhecê-los pelas expressões faciais! Sentimos o que eles sentem!
Para mim, o mais importante deste filme é a sensibilidade perfeita com que mete preto no branco as imperfeições de cada um deles mas sem os condenar. Ou de nós mesmos! O nosso egoismo exacerbado. A nossa solidão intransponível, mesmo estando rodeados de pessoas. A procura fútil e tantas vezes em vão daquilo a que chamamos o sentido da vida. O vazio que tantas vezes deixamos que se apodere de nós, a insatisfação que nos corrói o belo do que estamos a viver. Por vezes, só na confrontação com uma tragédia é que conseguimos ver o que perdemos ou o que ficou por dar. 
Mas é a celebração da amizade, no sentido mais puro e grandioso do sentimento que este filme nos mostra. Os últimos momentos são de uma intensidade tão elevada e tão próxima a cada um de nós, que é impossível não nos revermos. Quem vê este filme, fica concerteza com saudades de alguém de quem gosta ou apetece-lhe ser mais cuidadoso e mais carinhoso. 
A humanidade é a desculpa com que frequentemente justificamos os nossos erros. A amizade, pura e verdadeira, pode ser a nossa absolvição!
Se puderem, vão ver! Não saímos tristes do filme, saímos tocados pela sua imensa beleza!

domingo, 4 de setembro de 2011

A Esperança no fim das férias!


O fim das férias sabe sempre a limonada amarga, a melancia passada ou a peixe frio. Uma pessoa não escapa à nostalgia dos belos dias de prazer, da ausência de horários e de obrigações, da inutilidade bestial de só fazer o que lhe apetece e das quimeras que por vezes lhe passam pela cabeça de quando regressar, fazer e ser diferente!
As férias são um verdadeiro escape à rotina que nos desatina, ao stress que tantas vezes nos consome e à falta de tempo e até de paciência para olharmos por nós mesmos!
É bom ser inútil, pelo menos uma vez por ano e ocupar o tempo da maneira mais estapafúrdia que nos passar pela cabeça, sem sentir o peso de consciência de se estar a deixar de fazer alguma coisa que é mesmo necessária ou obrigatória! 
É maravilhoso estar de papo para o ar na praia, sentindo os raios de sol secarem-nos o biquini molhado a seguir a um refrescante mergulho. E sentir a franca preguiça e bem merecida de não ter mais nada para fazer senão mesmo isso: torrar os miolos ao sol! Tzzzzzzz.......... “Se me apetecer, daqui a nada, pego no livro que estou a ler, senão me apetecer, não pego! Ninguém me chateia....vou para a sombra e quem sabe, faço a sesta dos nossos amigos espanhóis - utópica no resto dos dias do ano! É tão bom ser preguiçoso, com direito e sem remorsos!”. Que a Sr. Merkel, não me leia!
Apesar de ser muito dificil regressar ao ritmo de trabalho...o primeiro dia, é como se um camião nos tivesse passado por cima: sonos trocados, energia em baixo, corpo e cérebro a pedir que se mantenha a inércia do “só fazes, se quiseres e se te apetecer”. Mas mesmo assim, é bom regressar! 
Sem querer parecer hipócrita ou estupida! Pondo de lado o desejo avassalador que qualquer comum europeu tem de ganhar o Euro-milhões e escapulir-se para muito longe de tudo o que é perto, sem deixar rasto e rir-se a bandeiras despregadas de todos os que por aqui permanecem - a bulir - e a sofrer por meia dúzia de tostões e a fazer contas desesperadas com as mãos metidas no fundo dos bolsos (rotos, com certeza!)! 


À parte de todos esses devaneios que nos ocorrem geralmente quando estamos fartos de tudo e não vemos a mais pequena saída...repito que também é bom voltar à nossa vida e retomar o nosso caminho! Rever as pessoas de quem gostamos e com quem lidamos no nosso dia-a-dia e que demonstram sinceramente que também gostam de nos voltar a ver e ter por perto; é bom contar o que fizemos e por onde andámos e trocar impressões! Está toda a gente com muito mais energia, mesmo os que não estão tão bronzeados. 
As férias são uma espécie de tónus existencial e é imprescindível aproveitá-lo no regresso, sem o gastar de um impeto. Aproveitá-lo para pegar em projetos adiados ou criar novos que nos permitam seguir em frente com esperança e determinação. Eu não sei se a esperança será uma palavra do agrado da Srª. Merkel ou dos srs. da Troika, mas é um estado de espirito que se deve estimular o mais possivel dentro de cada um de nós. E graças a Deus, é dos poucos bens que ainda podemos possuir, adquirir e criar em abundância sem que esteja sujeito a qualquer imposto! Por isso, não poupemos na Esperança!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A minha amiga Helena


Ontem fizeram-me o seguinte comentário a propósito de uma pessoa que me transmite uma enorme energia de paz e felicidade: “Nota-se que ela deve ser uma pessoa muito sozinha, porque precisa de falar muito e mete conversa com toda a gente, a propósito de tudo!” Eu fiquei espantada a olhar para essa pessoa e respondi-lhe que não tinha a mesma opinião. 
Penso que a Helena é uma pessoa feliz, à sua maneira. Só que é diferente. E nem toda a gente compreende essa diferença. Eu tive esse privilégio e por isso é que ela gosta tanto de mim.
A Helena tem algumas limitações devido a um certo atraso mental de que padece mas que não é severo. Vive no seu mundo que é uma espécie de jardim florido no meio de uma cidade cheia de edifícios de pedra. Quem fala com ela, percebe que é muito protegida pela mãe que a acompanha todos os dias à aula de hidro-ginástica (onde eu tive o prazer de a conhecer) e por quem ela tem uma enorme admiração: “A minha mãe é Doutora!” - disse-me um dia.
Gostei sinceramente de conhecer a Helena. E não partilho de maneira nenhuma o comentário que ontem me fizeram. Primeiro, porque me guio muito pela minha sensibilidade emocional. Houve dias em que cheguei à aula, cansada, preocupada e até deprimida e foi a alegria da Helena que me fez olhar para a vida com uma cor e uma esperança renovadas. Se os comentários dela são despropositados? Quem sou eu para julgar? Sinto por ela um carinho e uma admiração que me dão vontade de a proteger e de ouvir as suas histórias. E mesmo quando ela faz perguntas, um tanto ou quanto indiscretas sobre a minha vida...a ela, eu não levo a mal! Nem me incomoda destroçer-lhe  as alças do fato de banho - tarefa que já se tornou hábito ela pedir-me antes de cada aula, pela familiaridade que entretanto ganhou comigo! 
Por último, não partilho de todo que as pessoas que metem conversa com os outros e falam muito, sejam necessariamente pessoas tristes ou sós! Porque não havemos de querer conhecer melhor as pessoas com quem partilhamos todas as semanas duas aulas de hidro-ginástica e que representam para muitos de nós para além de sinónimo de saúde e bem estar, momentos puros de prazer e uma bomba de oxigenação para o stress diário?
Eu também sou como a Helena. Falo com toda a gente, tenho curiosidade em conhecer novas pessoas e saber um pouco das suas vidas; gosto de discutir opiniões sobre noticias e sobre banalidades e quando estou bem disposta, digo piadas sobre o que o me vai na cabeça! Detesto passar pelas pessoas como senão existissem.
Será que aquela senhora que me fez o comentário sobre a Helena também acha o mesmo de mim? Ou eu safo-me, porque não sofro de nenhum atraso mental  e possuo uma imagem mais dentro dos rótulos que a sociedade dita de normal? Não quero fazer interpretações injustas. Tenho a certeza de que o comentário não foi maldoso. É apenas uma questão de pontos de vista diferentes.
Ontem foi a última aula de hidro-ginástica antes das férias e congratulo-me de não ter faltado: o professor organizou jogos que possibilitaram a interacção entre as pessoas e rimo-nos todos uns dos outros e uns com os outros.
É bom sermos todos únicos e diferentes, porque de outro modo morreríamos de tédio!