segunda-feira, 13 de junho de 2011

Caro Dr. Passos Coelho,

Esta é a carta que eu quero que leia antes de iniciar oficialmente o seu mandato de primeiro-ministro.


Sou uma jovem de 25 anos, sou mestre pelo Tratado de Bolonha em Psicologia Clínica, estou a trabalhar num call-center porque já não suporto mais estar dependente dos meus pais e tenho o meu orgulho! E depois, também tenho dois bracinhos e duas pernas (como se costuma dizer) e não são para estar parados, gosto de trabalhar!

Não tive sequer oportunidade de fazer um estágio na minha área desde que me formei e por isso nem a carta profissional consigo obter para exercer a minha profissão. Ironicamente a Ordem dos Psicólogos pede-me quotas para pagar para puder candidatar-me a um estágio profissional, sem me garantir sequer que o arranje. Primeiro o dinheiro! - como os ladrões, quando nos assaltam!

Perguntei-lhes como poderia eu, estar a pagar quotas estando desempregada? Não me responderam. O que por outras palavras (se as tivessem usado) significa: desenrasca-te!


Mas não é para falar de mim que lhe escrevo. É para lhe pedir que cumpra duas promessas enquanto Primeiro-Ministro de Portugal:


Primeiro, que seja honesto no cumprimento das suas funções! Deixe-se de mentiras. Vai ver que, se optar pela verdade, por mais dura que ela seja, só terá a ganhar. Nem que seja o respeito de quem o ouve. E por favor, prometa apenas o que puder cumprir.

Em segundo lugar, deixe de olhar para o passado, a atirar culpas para os que se foram embora e a repetir os erros cometidos. Isso já não pode ser mudado. Faça você agora o que acha que deve ser feito! Ninguém anda para a frente a olhar para trás, a não ser que queira dar uma valente queda!


Ainda ninguém sabe muito bem o que é que nos vai acontecer mas já estamos todos conscientes de que vai ser difícil. Por vezes quando ouço os noticiários e os analistas políticos a falarem sobre a situação desastrosa em que o meu País se encontra, não posso deixar de me sentir como acontecia na escola e o professor me mandava escrever 100 vezes a seguinte frase: “Tenho de ouvir o professor com atenção e estar calada!”. Só que desta vez, sinto-me a ser castigada injustamente.


Não percebo nada de Politica e se quer que lhe diga, nem paciência tive para acompanhar a campanha eleitoral. Mas do pouco que ouvi, pareciam todos uns cães de caça a ladrar uns contra os outros e senti-me perdida, sem me identificar com nenhum dos discursos que ouvi.


Sabe, Dr. Passos Coelho, eu sou jovem, exijo soluções para tudo e não senti em nenhum de vocês como candidatos, terem a resposta para os problemas do meu País. E isso deixa-me ansiosa e sem confiança.


Acho que todos, sem excepção, se têm concentrado demasiado em desfiar culpas, em vez de apresentarem projetos concretos para criar emprego e condições para nos tornarmos uma economia competitiva.


Tem alguma ideia para manter viável o Sistema de Saúde nacional, Dr. Passos Coelho? E como acha que pode implementar os cuidados continuados dos idosos ou de quem precise e que não tem familiares que os apoie ou que não têm lugar num lar de idosos público? E o Sistema de Educativo? Não será altura de reanalisar a necessidade de certas licenciaturas e até criar novas, mais práticas e de onde o país possa tirar mais-valias e as pessoas que os frequentem não se sintam depois frustradas sem terem trabalho?


Não quero baralhá-lo com todas as questões que tenho para lhe fazer, por isso vou ficar por aqui. Relembro-lhe apenas que a sua responsabilidade é acrescida e que ainda que tenha havido uma abstenção superior a 41% e que na realidade pouco mais de 1/4 da população portuguesa tenha votado em si, o Doutor tem o dever supremo de nos governar a todos e de pensar em 1º lugar no que é melhor para o seu país.

Não quero desanimá-lo com esta carta, quero antes que ela sirva de consciencialização das responsabilidades que tem pela frente. Mas olhe, pense positivo, as coisas estão tão más que só podem melhorar!


Aconselho-o a escolher as pessoas certas para o ajudar a governar melhor e deixe-se de amigos! Não confio em si, da mesma maneira em que não confio em ninguém neste momento, mas quando lhe escrevo esta carta é para lhe dizer que antes de o julgar ou emitir alguma opinião sobre si, vou aguardar antes que mostre o que vale.


Quero voltar a acreditar que tenho futuro no meu país. Não me obriguem a emigrar!


Não vou maçá-lo mais, quero que se concentre na sua missão de governar o meu País. Não se deslumbre com o Poder. Eu vou ficar atenta e vou segui-lo de perto para saber se está a cumprir o que lhe pedi. E qualquer dia destes, volto a dar noticias. Estou cá com umas ideias de criar um projeto para integrar os idosos - porque eles podem ser produtivos, sabe? - que, ainda lhe peço para marcar uma entrevista...quando tiver tudo delineado na minha cabeça.


Cumprimentos da Carolina.

1 comentário:

  1. “Por Outros Portos”

    Às vezes vou par` além do que não sinto

    E digo o que jamais pensei dizer

    Às vezes não sou eu, e sei que finto

    O vertical condão do que é viver



    Nas ruas onde deixo que me vejam

    Apenas me encontram passos mortos.

    Se é onde me vêem que desejam

    Que amarre a minha nau por outros Portos.



    Amargas são as sílabas que junto

    Nestas raras palavras que vos dou

    Quando o texto decifrado é o conjunto

    Do luto avermelhado em que estou



    No chão se prendem hoje estes meus dedos

    Como a`pontar o resto dos meus dias,

    Não guardam mecanismos de segredos

    Nem escondem a poção das alegrias.

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