domingo, 19 de junho de 2011

Novo Episódio do Gato fedorento - A Praia!


As minhas idas à praia com o meu namorado são dignas de um episódio para o Gato Fedorento.


Eu já lhe disse que estou arrependida de ainda não o ter gravado. Estamos a passar ao lado de uma grande oportunidade para ganhar guita e em vez disso, só nos chateamos.


Senão vejam. Passo a descrever dentro das minhas limitações vocábulas e pouco dadas a inspiração humorística a cena que se passa quando consigo arrastá-lo até lá. Entenda-se por “Lá” - terras brancas, escaldantes e com um precipicio azul, de águas gélidas e profundas - definição de praia.


Para começar, ele só se deixa enganar quando lhe faço buzinar aos ouvidos, o isco almoço na praia. “Escolhe tu o restaurante”, digo. E lá vamos.

Enquanto o manjar estiver servido, tudo bem e nada digno de registo. O manancial começa a seguir. Quando ele vem arrastado até ao areal como quem caminha para a guilhotina.


Na penúltima vez, as coisas até correram bem, porque ele conseguiu aguentar-se debaixo do guarda-sol entretido com o seu I-pad cerca de duas horas. E ia-me avisando à medida que a bateria estava a terminar, “ainda dá para ires tomar outro banho...faltam 17% de bateria”, mas eu até acabei por ser poupada e antes que terminassem as pilhas do “abençoado entretem”, eu própria já estava com a barriguinha a dar horas para irmos almoçar.


Ontem não levámos chapéu de sol - era só mesmo para ir almoçar! - e eu antevi logo que as coisas não iam correr assim tão bem.


Mal acabámos de almoçar, lá fui eu sedenta estender-me na areia poucos metros à sua frente. Entretanto sua excelência que - sofre de horrores de um calor desumano que vem das têmporas da clavícula debaixo dos braços até ao pêlo mais curto da barba por fazer - decide mesmo assim (leia-se, sem guarda-sol!), fazer-me o jeito de vir ter comigo ao areal, porque entretanto ainda não tinha conseguido falar com o pai para ir pôr o barco na água e também não tinha arranjado companhia para continuar no bar de praia - ou seja, entediado já ele vinha e decide estamuerar-se em cima duma esteira (pouco quente também) vestidinho como veio ao mundo para sair de casa ontem: Th-shirt branca e calções pretos. Não pense o maior raio de sol que vai ter a sorte de lhe passar pelos buracos miudinhos do algodão da Th-shirt! Aquilo é à prova de UVA/UVB e fotosintese e anti-envelhecimento, pele branquinha e sedosa, sem necessidade de comprar cremes para hidratar. A alta cosmética que se cuide com o meu namorado. Não é à conta dele decerto que fazem os biliões de lucros todos os anos! E os anúncios dos modelos bronzeados da Piz-buin não foram decerto inspirados na sua pele branca de azulejos de cozinha - o bronzeado dele é o recorte da Th-shirt (decidi não utilizar pedreiro!).


E ali fica. A olhar para mim e para a paisagem circundante. A transpirar por todos os lados. Ou sem conseguir transpirar, porque a pele não tem por onde expressar tanta manifestação de calor, a não ser pelas inspirações e expirações ruidosas que sua excelência exalta com tanto fulgor, para que eu note o seu mau-estar e pesadelo.


Vira e revira-se - tipo enguia que está a ser caçada e com um olhar de “estás a matar-me, não vês?” sem qualquer piedade me atira. Temos que nos sentir mal os dois!


Ele porque sim. Gosta de praia, diz ele. Mas a partir das oito da noite - digo eu- ao pôr-do-sol e se houver um barzinho, com boa música, limonadas frescas ou champanhe (conforme os desejos dos dias!), boa companhia e nem lá pôe os pés. A praia como pano de fundo. Sem areia. Sem água. Sem calor. Sem tostadeira.

E eu porque me fico a sentir culpada do rapaz estar a agonizar, com os pés para a cova. A fazer o sacrificio de uma vida, tipo declaração de amor mas envenenada. E pior ainda, nem consigo enxergar o poder e a dimensão daquele sacrificio de amor supremo e de holocausto. A praia por este amor. Este amor é o fim da praia.


Até que chega o momento fatídico. Ele a agonizar de calor, de tédio, de contra-vontade, a sufocar nos segundos e minutos que aguenta estar 30 graus debaixo do sol, vestido. E eu a agonizar, a olhar para ele e a contar os segundos, os minutos que aquele desgraçado vai aguentar ao calor, sem se despir. E para acalmar os meus próprios animos e descontrair daquele sofrimento conjunto, digo-lhe “vou tomar banho”. Não queres? É pergunta que nem faço. Porque qualquer temperatura que a água do mar tenha, é sempre gélida para aquele corpinho de brasa.


Regresso do banho. Fresca. Ele atordoado. E depressa me passa o efeito refrescante do banho quando olho para ele. Ele está no equador. A temperatura alta já rebentou qualquer medição de mercúrio. Olha para mim, rebola os olhinhos que eu gosto tanto, mas que naquele momento me exprimem que ele já ultrapassou o maior entedianço e prostração que um ser humano consegue atingir e diz resoluto: “querida, vou dar uma volta. Estou impertinente.” Acreditem que ele não é nada bom a expressar sentimentos, porque se o fosse, no mínimo, eu seria atingida por um foguetão a alta velocidade! Aguentou 10 minutos, 44 segundos.


A praia não é decididamente o nosso programa forte. Mas também não pode ser o nosso calcanhar de aquiles.


Escrevi estas linhas para que nos rissemos os dois. Porque é com humor que certas divergências têm de se levar.

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