sábado, 26 de março de 2011

Almoço inspirador

Se estivermos atentos, um almoço a sós e rápido num dia de trabalho, numa tasquinha, pode ser verdadeiramente enriquecedor! Basta baixarmos o som dos nossos pensamentos ou, como me sucedeu ontem, começar a ouvir um ruído permanente e estridente, como se de um altifalante se tratasse em plena praça do comércio, recordando os discursos eleitorais.


De quem se tratava? De um Senhor que também ali almoçava...sim, convém retratar com respeito, já que o mesmo tem idade para ser meu pai - cabelos completamente neve, óculos garrafais e feições sérias, compenetrado no seu discurso e em não ser interrompido, sob qualquer pretexto - mesmo em caso de bomba posta no dito restaurante!


A voz - como já referi - foi o que me fez virar a cabeça para trás, para identificar o espécime que com tão grunhido esmero e pomposa sabedoria, explicava a todo o restaurante e não em particular à filha, o funcionamento do sistema de aquecimento das centrais nucleares e o perigo que tem estado latente actualmente em Fukushima com o sobre-aquecimento dos reatores provocado pelos estragos depois do Tsunami que veio a seguir ao terramoto!


Entusiasmado, vomitou publicamente toda a explicação da energia nuclear e todos os que lá estavamos sentados - sortudamente involuntários - não tivemos outra opção senão ouvir, mesmo que não fosse o melhor acompanhamento para o que estavamos a comer! Passando de seguida para a descrição do terramoto e do tsunami - explicando as consequências trágicas que o Japão está a sofrer, com análises verdadeiramente esmiuçadas e rebuscadas desde os artigos de letra miudinha dos jornais diários até aos telejornais!


A voz ia aumentando de entoação entre o trombone e o tambor, sem espaço para alguém - digo a filha - dar o mais pequeno contributo. “E não é só isso”, dizia quase a gritar, interrompendo a meia silaba que entretanto a filha tentara balbuciar, enquanto continuava a discursar, rebentando de contentamento o seu inesgotável património de factos e explicações sobre a tragédia do Japão.

Porque ali, naquele restaurante não havia ninguém que estivesse devidamente informado, pelo menos na percepção daquele Senhor! E portanto, era seu dever como cidadão do mundo, abrir-nos os ouvidos cheios de cera, nem que fosse à custa de incomodar o almoço dos outros!


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