domingo, 13 de março de 2011

Douro sem tempo...


Fui ao Douro pela primeira vez no passado fim de semana e descobri porque tem tanto sucesso! Pela gentileza e simpatia genuina de quem lá vive, pelas maravilhosas paisagens de vinhas ao longo das encostas acidentadas que se deixam banhar pelo rio Douro e vaidosas, sorriem espelhadas na sua imagem! E depois porque só quando lá chegamos e percorremos curva a curva os vários caminhos que nos levam pelas quintas produtoras de vinho e atravessamos aquelas povoações que ficaram paradas no tempo porque não têm pressa de crescer mais é que nos apercebemos que o nosso tempo não faz sentido nenhum por ali. Destoa. Fica mal. Para quê a pressa? Para onde se pode querer mais ir, senão ficar?


E como o tempo foi pouco para descobrir os milhares de encantos que o Douro tem, vou concentrar-me apenas em três jóias da coroa que por lá descobri e recomendo de viva e eufórica alma:


1- A casa das Pipas que é o hotel Rural da Quinta do Portal onde fiquei hospedada. Uma casa maravilhosamente acolhedora. Onde os sons da natureza nos embalam de noite e nos tranquilizam ao pôr do sol! Faltam-me as palavras para descrever toda a magia e a calma que inundam este local. Acho que a minha própria alma não conseguiu fazer a pausa acertada para descodificar as emoções que aquele espaço transmite! A luz alaranjada do céu pincelando os campos prata ao fim do dia, a aquietude da piscina vazia e o silêncio feliz de que está tudo em perfeita harmonia. É-me mais fácil falar da tristeza do que da felicidade!


2- O Restaurante DOC do chef Rui Paula, em Folgosa do Douro. Se se pode dizer que há restaurantes perfeitos, penso que este tende a sê-lo. Ambiente, serviço e gastronomia. Está perfeitamente integrado na paisagem, tirando um partido harmonioso da sua beleza e celebrando a perfeita comunhão entre o rio e a imensidão dos hectares de vinhas. O restaurante convida a paisagem a entrar e a paisagem acolhe o restaurante! E lá dentro uma pessoa sente-se verdadeiramente em casa. Pela gentileza e alegria dos funcionários, pela paixão de querer receber bem e pela ausência de arrogância quer por parte do Chef Rui Paula - que vem às mesas dos clientes a cumprimentá-los e a perguntar-lhes se estão a gostar - quer pela verdadeira relações públicas ali do sitio, a sua esposa, a Cristina, que espelha o que há de melhor no projecto em união de duas vidas: a paixão ardente e a dedicação suprema.

Fui lá jantar quando cheguei ao Douro e voltei lá para almoçar antes de me vir embora. Recomendo o cherne no forno com arroz preto e o caril de gambas com viera....divinais! Fiquei com pena de não ter comido o creme de espargos com viera e ravioli e tantas outras delicias que serão sempre um bom pretexto para lá voltar!


3- A quinta do Crasto. Onde a simplicidade impera e a beleza das paisagens circundantes nos deixam de boca aberta extasiada. Não só pelo vinho que degustamos - o mais puro dos néctares! - mas também pelo maravilhoso almoço, singular e simples, farto e sem manias, saboroso com os legumes da quinta acabados de colher e servido com toda a humildade de quem abre as portas com o requinte adoçicado de quem não espera mais que um agradecimento honesto e sincero. A piscina em frente à casa que termina como se não tivesse limites para além do céu e do rio que se extendem a seus pés. E a humanidade das pessoas que lá trabalham produzindo o melhor vinho que o Douro alguma vez ombreia produzir! Tudo isto é o Douro e sinto-me petrificada de emoção.


Como disse há momentos atrás, parece que o tempo por aqui parou. Na humildade que se vive, na gentileza das gentes que aqui nos recebem, na genuinidade de tudo o que se vê e se sente, na imensidão das paisagens que se extendem ao longo do rio e perante a incredulidade do nosso olhar. Douro....De ouro. De encanto supremo. De tesouro redescoberto. De sitio encantado. O tempo aqui não faz sentido. É vão. Para quê falar de algo que se transforma, se perde e está sempre em mutação? O tempo voa. O Douro fica. No coração.


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